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quinta-feira, 5 de junho de 2014

Técnica cirúrgica nova no país faz paraplégico recuperar movimentos

Implantação de eletrodos estimula nervos e força movimento muscular.
Paciente zero submetido à técnica deu primeiro passo com andador.

Eduardo Carvalho Do G1, em São Paulo
Um novo tipo de cirurgia feito pela primeira vez no Brasil em dezembro pode aumentar a qualidade de vida de pacientes com lesão na medula, que causa a perda de movimentos do corpo. Aplicado em quatro cadeirantes do país, o método permite ao paraplégico ou tetraplégico recuperar a sensibilidade de membros e, com a ajuda de sessões de fisioterapia, dá chances de ele ficar em pé e até caminhar com o auxílio de um andador.
O procedimento foi apresentado nesta quarta-feira (4) por especialistas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ele consiste na implantação de quatro eletrodos junto aos nervos ciático, femoral e pudendo.
Os eletrodos, programados para serem controlados pelo paciente, fazem diferentes combinações da largura do pulso, voltagem e frequência. Eles emitem baixas descargas elétricas e estimulam músculos que ajudam no controle das pernas, bexiga, reto, uretra e ânus.
Desenvolvida pelo médico francês, radicado na Suíça, Marc Possover, a técnica é chamada de Implante Laparoscópico de Neuroprotese (Lion, na sigla em inglês). Ela foi trazida ao Brasil pelos pesquisadores da Unifesp e experimentada em três pacientes de São Paulo e um de Santa Catarina.
Segundo os médicos, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) incorporou esse procedimento desde 1º de janeiro e os planos de saúde são obrigados a cobrir esse tipo de cirurgia em todo o país. Ainda não há previsão de o Sistema Único de Saúde (SUS) realizar em massa operações do mesmo porte.
Francisco Moreira, de 25 anos, o paciente zero do Brasil. (Foto: Eduardo Carvalho/G1) 
Francisco Moreira, de 25 anos, o paciente zero do
Brasil (Foto: Eduardo Carvalho/G1)
Paciente zero do país
O primeiro a se submeter à técnica no Brasil foi Francisco Moreira, de 25 anos, de Santa Catarina. Vítima de um acidente com snowboard quando tinha 20 anos, o estudante de medicina teve uma lesão medular grau B, que consiste na paralisia motora completa, com alguma sensibilidade preservada.
Em dezembro passado, ele realizou a cirurgia de implantação dos eletrodos no Hospital São Paulo e, desde então, sentiu as pernas mais fortes e teve uma redução drástica de espasmos, que provocam agitações involuntárias dos membros e podem dificultar a vivência de um cotidiano normal.
“Depois da cirurgia, nada ficou como antes. Um outro ganho impressionante que tive foi minha recuperação da incontinência urinária. Antes tinha que ir a cada quatro horas no banheiro e agora posso alongar esse tempo, dependendo da quantidade de líquido que ingerir”, diz Francisco.
Fisioterapia ajuda a ganhar equilíbrio
A fisioterapeuta Salete Conte, que atende Francisco, explica que ele teve um grande ganho no equilíbrio e controle do tronco e consegue virar o corpo para todos os lados, sem ajuda. Além disso, consegue ficar em pé, deslocar os quadris para a lateral com a ajuda do tronco inferior, movimentar os pés e caminhar dentro da piscina.
Francisco conta ainda que passou a ter mais sensibilidade ao pisar e a toques na perna. Após treinamento em piscina, na última semana o jovem deu seu primeiro passo fora da água, com a ajuda de um andador. “Esse foi o maior ganho, nem tanto a vontade de andar. Faria a cirurgia novamente só por isso", complementa.
De acordo com o médico Nucélio Lemos, ginecologista que trouxe a técnica para o Brasil, também foram percebidos avanços nos outros pacientes que também se submeteram à técnica. Sobre a possibilidade dos eletrodos auxiliarem algum paraplégico ou tetraplégico a andar, Lemos afirma que "a taxa de sucesso é bem alta".
Custo
A importação dos eletrodos, com bateria e um controle remoto que será operado pelo paciente para estimular as descargas elétricas, além da cirurgia com diversos especialistas, entre eles um neurologista e ginecologista, custa, em média, R$ 300 mil.
A esse valor, deve ser adicionado gasto com reabilitação do paciente no pós-cirurgico (sessões de fisioterapia), que chegam a custar até R$ 5 mil mensais. Além disso, a cada dez anos é necessário trocar a bateria do aparelho, que custa cerca de R$ 100 mil.

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