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segunda-feira, 18 de agosto de 2014

'Meu comandante não vai mais decolar', diz viúva sobre acidente

Viúvas do piloto e do copiloto do avião que caiu em Santos falam sobre a rotina de trabalho dos maridos e sobre sonhos interrompidos por tragédia.


Na tragédia em Santos, a dor da perda se misturou à perplexidade. É o sentimento de Flávia e Joseline, as viúvas do piloto e do copiloto do avião. Em um depoimento emocionado, as duas falaram sobre os sonhos interrompidos naquela quarta-feira que elas nunca mais vão esquecer.
“A última vez que o encontrei pessoalmente foi na segunda-feira (11), que foi onde eu arrumei o uniforme dele, coloquei a caneta no bolso da camisa, arrumei a calça dele, engraxei o sapato que ele pediu. Ele almoçou com a gente, levamos as crianças na escola, ele deu beijo, disse que amava os filhos, e que ia ter que sair, viajar”, lembra Flavia Tatiane Vargas Martins, viúva.
Flavia era casada com Marcos Martins, piloto do jatinho que transportava o candidato Eduardo Campos. O casal morava em São Paulo e tinha dois filhos: Cauã, de 7 anos, e Guilherme, de 2.
“Embora ele viajasse muito, ele era muito presente. Na última vez que nós nos falamos, foi na terça-feira (12) à noite. Ele estava no hotel, no Rio, e pediu para falar com o Cauã. Mandou um beijo para ele e falou: ‘Filho, papai te ama demais, se cuida, presta bastante atenção na escola, e amanhã o papai está aí para a gente brincar junto, tá?’. Isso era uma rotina da gente: se ver e ele ver os meninos, mesmo que estivessem dormindo. Aí eu mostrei o Gui dormindo no berço e ele falou: ‘O tesouro do papai, coisa mais rica da vida do papai, o papai te ama muito, muito, filho’”, diz a viúva. 
Marcos começou a pilotar há 21 anos e sempre trabalhou com aviação executiva. Experiente, tinha mais de 7 mil horas de voo.
“Ele nunca falou que tinha medo de acontecer alguma coisa. Eu, sim, uma vez pedi para ele parar. Ele falou assim: ‘fica calma, amor, você não precisa ficar assim com esse medo, porque se eu tiver um dia que partir, não vai ser aqui, vai ser da vontade de Deus. O dia que eu tiver que ir embora, eu vou’”, conta Flavia.
Marcos trabalhava desde maio como piloto da campanha de Eduardo Campos. “Ele vinha em casa, sim. Às vezes, ele ficava dois, três dias, viajava, voltava. A vida deles é assim, de todo piloto. Você pode perguntar para qualquer piloto”, conta Flavia.
O piloto estava no comando no momento do acidente, na quarta-feira (13). “Eu sei que ele fez de tudo, o possível e o impossível ele fez, para salvar a vida de todos que estavam ali dentro”, afirma Flavia.
Nos 11 dias antes da queda, o Cessna prefixo PR-AFA foi usado para vários compromissos de campanha.
No sábado, dia 2 de agosto, Eduardo Campos estava em Brotas, no interior de São Paulo. No dia seguinte, a campanha seguiu para Pernambuco. No dia 4, novamente, São Paulo. Dia 5, foi a vez do Rio. Dia 6, Brasília. No dia 7, o avião seguiu para dois estados: São Paulo e Bahia. No dia 8, Alagoas e novamente Pernambuco. No dia 9, Paraíba. Dia 10 foi Dia dos Pais e aniversário de Eduardo Campos, e o candidato permaneceu no Recife. O compromisso do dia 11 foi uma entrevista em São Paulo para o portal G1. E os dois últimos dias foram no Rio de Janeiro, onde Eduardo Campos deu entrevistas para o Jornal Nacional e para a GloboNews.
Na cabine, Marcos recebia a ajuda do copiloto Geraldo Magela da Cunha. A viúva dele conversou com o Fantástico em Belo Horizonte.
“Ele era apaixonado por aviação. Ele sempre, onde ele estava, me ligava, falava como estava tudo. Mas ele estava feliz”, diz Joseline Vieira Amaral da Cunha, viúva.
Geraldo também era um piloto experiente. Morou 25 anos nos Estados Unidos, onde trabalhou em várias companhias aéreas. O primeiro filho, de 4 anos, nasceu quando o casal ainda morava fora e, agora, Joseline está grávida de 7 meses, de uma menina.
“Ele era um pai exemplar, amava o filho dele, João. Estava muito feliz que a Ana estava chegando”, ela conta.
O casal tinha voltado a morar no Brasil, mas, no dia do acidente, Joseline estava nos Estados Unidos, comprando o enxoval do bebê.
Para os filhos, ela já sabe o que falar: “Vou falar que o pai deles era muito divertido, muito batalhador. Eu vou incentivar o meu filho a ser como o pai, o que ele quer. Eu quero que ele saiba que o pai dele foi uma grande pessoa”, afirma.
Para Flavia, fica a lembrança: “Quando ele saía para viajar, como daqui dá para ver, ele ligava para mim e falava assim: ‘tem um outro avião e depois sou eu, fica na sacada para você me ver decolando’. A gente falava para os meninos: ‘vamos dar tchau para o papai’. E a gente dava tchau e falava: ‘Tchau! Boa viagem, papai, que Deus acompanhe e te guarde, a gente está esperando você em casa’. Agora os aviões decolam, os aviões pousam e o meu comandante não vai mais decolar. Infelizmente, não”.

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