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sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Bairros da Zona Leste registram aumento no consumo de água em SP

Moradores atribuem fato a desperdício e aumento da pressão na tubulação.
Já o Grajaú, na Zona Sul, teve o menor consumo mensal desde a crise.

Paulo Toledo Piza e Thiago Reis Do G1 São Paulo
 
Em meio à crise hídrica que atinge São Paulo desde o ano passado, bairros da Zona Leste de São Paulo registraram leve aumento no consumo de água em julho. Segundo dados da Sabesp obtidos pelo G1 via Lei de Acesso à Informação, das 26 regiões da cidade, sete registraram alta em um mês.

Seis delas estão na Zona Leste: São Miguel, Penha, Cidade Tiradentes, Guaianazes, Itaim Paulista e Arthur Alvim. Situado na Zona Sul, o Ipiranga também teve aumento, mas de apenas 10 litros a mais por domicílio.
O consumo mensal da maioria das áreas da Zona Leste em julho é maior também que o dos meses de março, abril e maio. O G1 elaborou um mapa com os dados de consumo mensais por região desde janeiro de 2013, antes do início da crise.
Os índices da Zona Leste variam de 90 a 140 litros a mais por domicílio. Moradores ouvidos pela reportagem nestes bairros apontam algumas razões para o consumo maior, como desperdício, aumento da pressão na tubulação e patamar de uso próximo do limite (assista ao vídeo acima e leia os relatos abaixo).
Questionada, a Sabesp diz não ter uma explicação para o aumento do consumo na Zona Leste. A companhia ressalta, no entanto, que, em julho, pelo terceiro mês seguido, a região metropolitana de São Paulo manteve a mesma taxa de economia de água, com 83% dos clientes economizando (sendo que 73% ganharam o bônus). O volume economizado, de acordo com a Sabesp, é suficiente para abastecer cerca de 2 milhões de pessoas.
Os dados obtidos pelo G1 mostram que, apesar do gasto maior na Zona Leste, a cidade tem, de fato, variado pouco o consumo médio mensal. Desde fevereiro, o índice tem alternado entre 10,3 mil litros e 10,4 mil litros por domicílio.
Pressão reduzida
Francisco Gomes de Almeida vive em Arthur Alvim e não tem mais problema de falta de água (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)

Desde o início do ano, moradores reclamam que a Sabesp vem reduzindo a pressão da água, deixando as torneiras secas por várias horas durante o dia. Eles dizem, no entanto, que houve uma melhora no mês de julho.
Em Arthur Alvim, por exemplo, o comerciante Francisco Gomes de Almeida, de 57 anos, já não teme que a louça de seu bar fique suja de um dia para o outro. “Chegou a faltar água no passado. Faltava no período da tarde, mas voltava no início da manhã. Agora não tenho tido mais esse problema”, conta.
O comerciante, que antes da crise hídrica gastava entre 14 mil litros e 15 mil litros de água, diz que passou a economizar com medidas simples, como substituir a mangueira pela vassoura e lavar o chão com água de reuso. Agora, ele gasta, em média, 9 mil litros – a média na região é de 9.490 litros, segundo os dados da Sabesp.
Caíque Nogueira não consegue mais economizar água (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)

O vendedor Caíque Nogueira, de 20 anos, também revela ter mudado a relação com a água. A conta do mercado onde trabalha, porém, chegou a um limite em que não é mais possível diminuir. Dessa forma, qualquer variação na rotina, como mais clientes ou um dia mais quente, acarreta em mais gastos.
“A situação aqui está difícil. A água está acabando em torno das 16h, então a gente tem que tomar algumas precauções, como limpar a bomboniere, lavar a louça, e a gente tem que fazer isso antes que a água acabe”, afirma. O gasto mínimo do estabelecimento é de R$ 200.
Divisão da Sabesp
A Sabesp divide a cidade em 26 regiões de atendimento.  A divisão é diferente da feita pela Prefeitura. A região de São Miguel, por exemplo, abrange 20 bairros que vão desde Cidade Pedro I até Vila Verde, passando por Ermelino Matarazzo (veja os bairros contidos em cada região no infográfico especial). Moradores dizem que a região ainda enfrenta problemas de abastecimento: a água acaba no início da tarde e volta apenas de madrugada.
José Domingos espera uma conta de água bem alta (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)

Para o aposentado José Domingos Rodrigues, de 64 anos, morador da Vila Jacuí, uma das razões para o aumento do consumo na região é o desperdício. Para exemplificar, ele conta um caso ocorrido em sua casa: em uma noite de agosto, sua mulher tentou lavar roupas no tanque e, como não saía água, ela se distraiu e não fechou o registro.
De madrugada, quando a pressão aumentou, a água voltou a sair da torneira e ficou horas indo direto para o ralo. “É um prejuízo de três, quatro horas. Eu ganho pouco, mas vou ter que pagar porque ela vacilou”, diz. “Estou contando com 3, 4 metros [cúbicos] a mais que eu vou pagar. Tomara que seja isso.” Sua residência gasta, em média, 10 mil litros de água.
Situação semelhante foi vivida pelo comerciante Francisco Almeida, de Arthur Alvim, em fevereiro. “Esqueceram o registro aberto no sábado e no domingo. Só fecharam na segunda. Paguei R$ 398, R$ 136 só de multa. Saltou de 9 mil litros para 22 mil litros.”
Grajau tem o menor consumo da capital
Lauro Ricardo quer economizar cada vez mais água (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)

O Grajaú, no extremo sul da cidade, é uma exceção. A região tem batido recordes “positivos” mês a mês. Em julho, o bairro teve o menor consumo médio por domicílio de toda a cidade desde o início da crise: 8.680 litros (veja relato dos moradores no vídeo abaixo).
O comerciante Lauro Ricardo del Rovere, de 45 anos, atribui a diminuição gradual do consumo aos hábitos de economia que toda a vizinhança resolveu adotar. “A água do chuveiro eu jogo na banheira e também uso na descarga. A do tanque eu uso para limpar a calçada. Também fechei o registro, para vir menos água”, afirma.
As medidas fizeram com que ele diminuísse o consumo de 17 mil litros para 7 mil litros – abaixo da média geral. “Vou continuar economizando. Ainda mais eu, que sou mão de vaca”, brinca.
Lauro Ricardo quer economizar cada vez mais água (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)

Morador de Parelheiros, que também faz parte da região do Grajaú, segundo a divisão da Sabesp, o vendedor Fabio Henrique Carvalho, de 32 anos, diz que tem economizado bastante, mesmo com o aumento de pessoas morando na residência. Eram apenas duas em 2014; agora, são seis. “A gente reaproveita a água depois de lavar a roupa e só dá descarga só no fim da noite. Neste mês, gastamos 13 mil litros. Se não tivesse economizado, gastaria 18 mil litros.”

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