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quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Cunha virou um analgésico para o PT


Cunha protesto Câmara notas de dólar falso



Contra sua própria vontade, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, se transformou numa fonte de alívio para a presidente Dilma Rousseff. Enquanto ocupava o papel de líder real da oposição e levava adiante as tentativas e impeachment, Cunha era uma dor de cabeça para Dilma. Assim que foi descoberta sua mentira sobre as contas na Suíça, ele se transformou em analgésico.

O efeito Cunha é hoje semelhante ao daqueles remédios que enganam o cérebro por desviar sua atenção para outra coisa além da dor. Enquanto todos estiverem ocupados com o pedido de cassação de Cunha, ninguém mais presta atenção ao impeachment de Dilma. Depois que ele revogou o rito de tramitação reprovado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o assunto simplesmente morreu.

Não que as pedaladas fiscais tenham deixado de existir. O próprio governo admitiu ontem que elas chegam a R$ 57 bilhões e serão o principal fator que levará ao déficit fiscal recorde deste ano. O parecer do TCU continua lá no Congresso, à espera de que as contas do ano passado sejam votadas. Nada disso mudou. O que mudou foi a disposição de Cunha de levar a coisa adiante, pois primeiro ele precisa se defender.

Sua estratégia de defesa é risível. De acordo com relatos de deputados próximos a ele, Cunha afirmará que não mentiu ao dizer na CPI da Petrobras que não tinha contas na Suíça, porque as contas não são suas, mas de empresas offshore das quais ele é beneficiário. Pelo mesmo raciocínio, nenhum empresário é dono do patrimônio de suas empresas. Sobre a origem do dinheiro que não foi declarado à Receita Federal, Cunha pretende dizer que se tratava de um empréstimo que fora saldado sem seu conhecimento por meio do pagamento às offshore. E aqui todos damos uma gargalhada.

A garantia de que esse argumento estapafúrdio terá sucesso parece estar na escolha do relator do processo de cassação, provavelmente o deputado paulista Fausto Pinato (PRB). Pinato é do grupo ligado a Celso Russomanno, o primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto para prefeito de São Paulo no ano que vem. Foi o menos votado dos deputados de São Paulo a conseguir assento na Câmara. Só está lá porque a votação extraordinária de Russomanno puxou vários outros deputados de seu partido.

Ninguém sabe o que Piinato fará na relatoria, embora Russomanno tenha garantido sua independência ao presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PSD-BA), um adversário de Cunha. Pinato ainda não foi apontado formalmente, mas a menção a seu nome foi comemorada pelos aliados de Cunha.

Enquanto o processo contra Cunha se arrastar, o PT poderá respirar aliviado. Ninguém dará um passo na direção do impeachment de Dilma. Tal ação, pela decisão do STF, só poderia ser tomada por Cunha, e ele não a tomará, já que precisa dos votos petistas no Conselho de Ética para evitar sua cassação.

Alguns deputados da oposição armaram ontem um barraco na Câmara para instalar um painel de protesto pelo impeachment. É a isso que se vê reduzida nossa oposição. Derrotada nas urnas,  foi incapaz de articular um discurso consistente de contestação ao governo mais impopular da História do Brasil – incapaz de sanear as contas públicas, de atrair investimentos na infra-estrutura e até de fazer funcionar um mísero site para emitir as guias do Simples Doméstico. Convenhamos que motivo para crítica não falta.

Apesar disso, a oposição foi incompetente desde o início e nunca conseguiu ocupar o espaço aberto pelo maior sentimento anti-petista da história, que mobiliza 70% dos brasileiros, segundo o Ibope. Cedeu espaço para a ascensão de Cunha na liderança dos ataques a Dilma e acabou refém de um aliado pouco confiável. Se, para Dilma e o PT, Cunha funciona hoje como um analgésico, a oposição sempre foi um bálsamo fortificante. Com a ajuda de PSDB, DEM, PPS e companhia, Lula já pode começar a comemorar a eleição de 2018.

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