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terça-feira, 19 de julho de 2016

'Escola não me constrange mais', diz transexual após adotar nome social

Moradora de Campo Limpo Paulista iniciou readequação de gênero aos 16. Agora, Stefany Simões se sente confortável para terminar o ensino médio. 

Amanda CamposDo G1 Sorocaba e Jundiaí
Stefany voltou para a escola após saber que poderia ser chamada por seu nome social (Foto: Arquivo Pessoal)

Stefany voltou à escola após saber que poderia ser chamada por seu nome social (Foto: Arquivo Pessoal)
A estudante Stefany Rezende Simões tinha apenas 16 anos quando descobriu que não tinha nada em comum com Igor Augusto Rezende Simões, como ela foi batizada ao nascer. Após ter consciência sobre a própria identidade de gênero, a então adolescente de Campo Limpo Paulista (SP) passou a tomar hormônios para criar formas femininas e mudou radicalmente o visual. A atitude que chocou família e amigos levou a jovem, atualmente com 23 anos, a abandonar os estudos após completar o primeiro ano do ensino médio, em 2009. 
Sete anos depois, ela decidiu procurar, alguma institução de educação que a identificasse pelo gênero da qual quer ser chamada: o feminino. 
"Faço acompanhamento médico em um ambulatório de São Paulo e lá vi divulgações sobre leis, incluindo a do nome social e da mudança de documentos. Dei entrada no processo para ser legalmente conhecida como mulher, mas isso requer tempo. A da escola parecia mais fácil, então, quando voltei para Campo Limpo [Paulista], decidi voltar a estudar e ir atrás do nome social. A escola não me constrange mais", conta Stefany em entrevista ao G1.
Busca por direitos
Desde o começo do ano, quatro estudantes adotaram o nome social em escolas da região de Jundiaí (SP). A Diretoria Regional de Ensino (DRE) da cidade destaca que esse direito é válido a todos os alunos transgêneros, transexuais e travestis. A legislação está em vigor na Secretaria da Educação de São Paulo desde 2015.
No entanto, garantir esse direito não foi uma tarefa fácil. Segundo Stefany, após se identificar como transexual e fazer a solicitação junto a escola, a diretora da unidade informou não estar ciente sobre esse tipo de caso e explicou que a estudante teria de ir até a DRE para ver se eles tomariam as devidas providências. 
"Eu telefonei para a diretoria [de ensino] e lá, recebi as orientações. Eles me instruíram e disseram que a escola era obrigada a reconhecer minha identidade de gênero. Repassei as informações para a escola, que aceitou. Imagina o constrangimento, ser chamada por um nome masculino quando se é uma mulher", diz.

Para o professor e responsável pela equipe técnica de educação para a diversidade sexual e de gênero da coordenadoria de Gestão da Educação Básica, Thiago Sabatine, a dificuldade que Stefany encontrou para incluir seu nome social deve ser encarada como uma exceção. "Ainda é preciso adequar processos de informação sobre esse tema, mas no geral, essa medida funciona. Estamos falando de mais de 240 mil professores e cerca de 40 mil servidores. Ainda é um desafio", afirma.
A estudante começou a tomar hormônios por conta própria aos 16 anos (Foto: Arquivo Pessoal)

A estudante começou a tomar hormônios por conta própria aos 16 anos (Foto: Arquivo Pessoal)
Um balanço da equipe técnica de Diversidade Sexual e de Gênero da Coordenadoria de Gestão da Educação Básica (CGEB) informa que a maioria dos pedidos é feita por pessoas que querem ser chamadas no feminino. "O uso do nome social é importante, pois é um sinal de respeito, conhecimento e incentiva a escolarização de travestis e transexuais", avalia Sabatine.
Inclusão
Para o aluno pedir a inclusão do nome social é preciso fazer o requerimento junto a escola a qualquer momento e em qualquer período do ano, como destaca Thiago Sabatine. Na sequência, a escola tem sete dias para incluir o nome social no sistema de cadastro de alunos, a partir do qual são gerados os documentos escolares de circulação interna – lista de chamada, carteirinha de estudante e boletim.
Stefany com a família: ela ainda tem problemas com o pai (Foto: Arquivo Pessoal)

Stefany com a família: ela ainda tem problemas com
o pai (Foto: Arquivo Pessoal)
Foi esse o tipo de política que incentivou a volta de Stefany à escola e mudou a forma como ela enxerga a vida. "Desta vez não me senti desrespeitada na escola em momento algum. Até porque faço acompanhamento psicológico e aprendi a lidar melhor com a curiosidade que a minha identidade de gênero desperta nas pessoas", explica.
Durante a adolescência, após se assumir transexual, Stefany enfrentou a resistência dos parentes, encerrada com o tempo, com exceção do pai. "Tenho muito contato com a minha mãe e me dou bem com meus irmãos, mas meu pai nunca me aceitou. Passou a respeitar depois de um tempo, mas não aceita", diz.
Questionada sobre como esse afastamento afeta sua vida, ela afirma que tenta lidar com a situação investindo em si mesma. "Estou em busca do melhor para a minha vida. Hoje moro sozinha, lido melhor com essas dificuldades. Mas estou investindo na minha vida. É o melhor que faço por mim e para eles."

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