Contador de visitas

segunda-feira, 13 de março de 2017

Em 2016, mais de 2 mil venezuelanos foram à PF solicitar refúgio.
Migração em massa coincide com agravamento da crise na Venezuela.

Emily CostaDo G1 RR
Refugiados aguardam atendimento em frente à PF em Boa Vista  (Foto: Emily Costa/ G1 RR)

Venezuelanos aguardam atendimento em frente à PF em Boa Vista (Foto: Emily Costa/ G1 RR)
O número de venezuelanos que solicitaram refúgio em Roraima cresceu 22.122% nos últimos três anos, revelam dados divulgados pela Polícia Federal no estado. Só no ano de 2016, mais de 2 mil venezuelanos foram à sede da PF em Boa Vista  para requisitar a condição de refúgio.
A Polícia Federal diz que em 2014 foram só nove solicitações, enquanto que em 2015 o índice foi para 230 e chegou a 2.230 em 2016. O aumento no número de pedidos coincide com o agravamento da crise econômica no país governado por Nicolás Maduro.
Neste ano, o índice de solicitações ainda deve dobrar: até março a PF já tinha agendado 4 mil atendimentos de pedidos de refúgio até outubro. A Polícia garante que quase 100% desses agendamentos foram feitos a venezuelanos.
O refúgio é uma proteção legal para estrangeiros que sofram perseguição em seu país de origem por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, ou ainda, que estejam sujeitos à grave e generalizada violação de direitos humanos.
Segundo a PF, apenas cinco das 2.230 solicitações feitas em 2016 foram analisadas e arquivadas pelo Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), que decide pela concessão ou não do refúgio. O G1 tentou contato com a assessoria do Comitê mas não obteve retorno.
Os números são fieis à realidade. Na sede da Superintendência da Polícia Federal em Boa Vista as filas de venezuelanos são diárias e começam logo nas primeiras horas do dia.
Família foi à PF solicitar refúgio em Roraima: 'Na venezuela não tem comida', dizem (Foto: Emily Costa/ G1 RR)

Família foi à PF solicitar refúgio em Roraima: 'Na
venezuela não tem comida', dizem (Foto: Emily
Costa/ G1 RR)
A polícia estima que até 70 estrangeiros compareçam por dia na unidade no intuito de fazer o pedido. Desses, 98% são venezuelanos que querem ficar no Brasil.
Na quinta-feira (8) às 7h, já era possível ver mesmo de longe um extenso grupo de venezuelanos a espera da abertura do portão da sede da polícia, que ocorre só às 8h.
Às vezes, famílias inteiras vão ao local para solicitar o pedido de refúgio. Nos relatos deles, a crise econômica e a consequente falta de comida na Venezuela são fatores comuns.
Uma venezuelana de 21 anos, a filha dela de 3 e a mãe de 48 foram à PF na quinta-feira solicitar refúgio para permanecer em Roraima.
Antes moradores da cidade de Anaco, no estado Anzoátegui, Nordeste do país, elas querem ficar em Roraima até que a crise venezuelana se amenize.
"Eu e minha filha de 3 anos estamos aqui há quatro meses. Meu marido veio antes de nós para trabalhar como mecânico e depois nos trouxe. Já a minha mãe veio tem 15 dias. Queremos morar em Roraima até que a situação melhore na Venezuela", explica a jovem que não quis ter o nome divulgado.
A mãe dela, que era cabeleireira no país natal, diz que a falta de comida e o desemprego são os fatores que mais têm feito os venezuelanos deixarem suas casas em busca de refúgio no Brasil.
"Estamos trocando de país para comer. Queremos uma vida melhor", desabafa. Ela conta que já encontrou trabalho em Roraima e que pretende solicitar também a carteira de trabalho. "Só voltaremos para a Venezuela quando tudo voltar ao normal".
Ex-soldador de petrolífera venezuelana  (Foto: Emily Costa/ G1 RR)

Ex-soldador de petrolífera venezuelana
(Foto: Emily Costa/ G1 RR)
Companheiro de fila, um venezuelano de 33 anos é rápido em dizer porque veio para Roraima em busca de emprego.
"Eu era soldador em uma petrolífera venezuelana há seis meses. Um dia meu salário atrasou e eu disse ao meu patrão que não dava mais para comer na Venezuela. Ele me demitiu de imediato. Lá não se pode falar mal do governo, mas a verdade é que no governo Maduro tudo se acabou", afirma. Ele não quis ter a identidade divulgada.
Hoje, vendendo flores em um sinal de Boa Vista, ele diz que quer se regularizar no Brasil para trazer, em breve, para Roraima, a mulher e os dois filhos que continuam morando em Caracas, capital do país.
"Eu tinha casa e dois carros na Venezuela, mas quando fui demitido tive de vender um dos meus veículos para conseguir vir para o Brasil. Só voltarei para Caracas se um dia a vida lá melhorar", finaliza.
Fronteira entre Brasil e Venezuela
A fronteira entre Brasil e Venezuela fica no Norte de Roraima e, desde o agravamento da crise econômica venezuelana, o estado vive um boom de imigração considerado histórico.
Fronteira entre Brasil e Venezuela, no Norte de Roraima, está fechada com cones na manhã desta segunda-feira (19) (Foto: Inaê Brandão/G1 RR)

Fronteira entre Brasil e Venezuela, no Norte de Roraima (Foto: Inaê Brandão/G1 RR/Arquivo)
O tráfego entre os dois países é praticamente livre. No final do ano passado, no entanto, o acesso foi fechado por ordem de Maduro no intuito de combater as máfias que fazem contrabando de bolívares.
Com o bloqueio da estrada que liga os dois países, centenas de pessoas estavam cruzando a fronteira a pé de forma clandestina tanto para comprar comida em Pacaraima, cidade brasileira, quanto para fugir da Venezuela. A fronteira foi reaberta em 7 de janeiro deste ano.
Além de buscarem postos formais de trabalho em Roraima, muitos imigrantes sobrevivem de trabalhos informais ou até pedindo esmolas. Alguns vêm apenas em busca de tratamento médico, o que levou o estado a decretar emergência na Saúde.
Devido ao elevado número de venezuelanos morando nas ruas de Boa Vista, um abrigo foi improvisado pelo governo e agora o estado tenta integrar índios da etnia venezuelana Warao com grupos indígenas nativos.

Nenhum comentário: