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quarta-feira, 8 de março de 2017

Gravidez indesejada: nível de escolaridade influencia planejamento familiar

Segundo a PNS, 87% das mulheres com pouca instrução já tiveram uma gravidez.
O planejamento familiar e o conhecimento sobre métodos contraceptivos parecem não atingir os 68% dos brasileiros que constituem as classes C, D e E.

O planejamento familiar e o conhecimento sobre métodos contraceptivos parecem não atingir os 68% dos brasileiros que constituem as classes C, D e E. - Foto: Reprodução
SÃO PAULO – Apesar de ser um direito das mulheres conquistado após anos de luta, e fortemente recomendado por diversas sociedades médicas ao redor do mundo, o planejamento familiar e o conhecimento sobre métodos contraceptivos parecem não atingir os 68% dos brasileiros que constituem as classes C, D e E, de acordo com estudo Critério Brasil, realizado pela Associação Brasileira de Empresas e Pesquisas. Isso é o que indicam também dados encontrados no estudo Nascer no Brasil (Fiocruz) e na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS-IBGE).
A PNS afirma, ainda, que 87% de mulheres sem instrução ou com ensino fundamental incompleto já tiveram uma gravidez. Essa porcentagem, quando comparada aos 56,4% de mulheres com ensino superior completo que ainda não engravidaram, evidencia a influência do nível de escolaridade na taxa de fecundidade, além da importância da educação sexual no ambiente escolar.
“Diferentemente do que se pensava há alguns anos, a presença da educação sexual no ambiente escolar não incentiva a prática de relações precocemente, muito pelo contrário. Ao discutir o assunto em sala de aula, os alunos muitas vezes esclarecem pontos que não se sentem à vontade para abordar com a família e passam a compreender melhor seus corpos, a fase em que se encontram e suas vontades individuais, evitando sucumbir às pressões impostas pelos colegas e cometer erros como se esquecer da camisinha, por exemplo”, destaca Dr. Afonso Nazário, ginecologista e Professor Livre-Docente do Departamento de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Evidenciando a relevância do conhecimento na promoção de escolhas conscientes relacionadas ao planejamento familiar, o estudo apontou ainda que apenas 46,4% de mulheres sem instrução ou com ensino fundamental incompleto utilizam algum método contraceptivo, enquanto que a porcentagem de mulheres com ensino superior completo que utilizam algum método chega a 69,7%.
“Mesmo na idade adulta as mulheres precisam receber informações e conhecimento sobre os métodos disponíveis e qual a melhor escolha para cada uma. Com os adolescentes a educação previne uma gravidez precoce e abandono da escola, enquanto que para as mulheres adultas, após os 20 anos, esse conhecimento possibilita o planejamento tanto familiar quanto econômico”, ressalta Nazário.
Diferentes objetivos da educação sexual
Em contrapartida ao cenário brasileiro, países com alto desenvolvimento econômico e social têm uma forte cultura em se tratando de educação sexual. Na Suécia, por exemplo, as aulas são obrigatórias no sistema público desde 1956, e consequentemente, o número de gestações indesejadas, principalmente entre adolescentes, é baixa.
Para se ter uma ideia do quão eficaz a educação sexual pode ser, na Dinamarca, a ONG Sexo e Sociedade decidiu reestruturar o plano de ensino, com isso passou a abordar a prática sexual e a gestação de forma positiva, focando no uso do conhecimento para a tomada de decisões.
“Levando em consideração o perfil populacional brasileiro e suas necessidades, o principal papel desse tipo de orientação é mostrar à mulher que há inúmeras maneiras de planejar seu futuro. Neste Dia Internacional da Mulher, a mensagem principal para todas as brasileiras é que saibam a importância da conscientização sobre os cuidados com a saúde, os diferentes métodos contraceptivos, a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e que têm liberdade de escolha”, lembra o ginecologista.
Gestações não planejadas
O estudo Nascer no Brasil, realizado pela Fiocruz abordou as principais características das mães e bebês brasileiras. Entre os dados mais relevantes constatou-se que 30% das mulheres entrevistadas não desejaram suas gestações, sendo que 9% ficaram insatisfeitas com a gravidez e 2,3% tentaram interrompê-la.
“Quando a mulher vivencia uma gestação indesejada é normal que ela conduza o pré-natal de maneira errada, isso quer dizer que ela procura um sistema de saúde mais tarde e consequentemente frequentam um número menor de consultas, colocando em risco a avaliação adequada dela e do bebê”, conclui Nazário.
Entre o total de entrevistadas, 19% eram adolescentes, das quais mais de dois terços estavam em atraso ou fora da escola, pertenciam às classes sociais mais baixas e receberam um número menor de consultas ao longo do pré-natal.

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