Quando entro em uma escola que não conheço, gosto de ver com estão dispostas as carteiras nas salas de aula - e constato há pouca variedade entre uma instituição e outra. A forma mais comum é a de que gosto menos: mesas individuais dispostas em fila, de frente para uma mesa maior, que é a do professor. Até hoje copiamos o modelo sumério de escola, o da escola de Edubba - a Casa de Tabuinhas!
Entretanto, nos mais de cinco milênios que nos separam do modelo original, a escola deixou de ser um lugar no qual somente alguns aprendiam o ofício de escriba. Agora, é lugar em que todos os futuros cidadãos adquirirem, de fato, a igualdade que as constituições lhes outorgam de direito, existe uma grande diferença entre ir à escola pensando que é preciso ser o melhor dos futuros escribas – porque, assim, o rei lhe dará um trabalho no palácio – e saber que esse é o lugar onde você se formará como cidadão de uma sociedade democrática e igualitária,pelo menos no papel.
No primeiro caso, as demais crianças e jovens são seus potenciais rivais; no segundo, são companheiros que o acompanham no processo. No primeiro caso, fomenta-se a “interdependência negativa” – “que eu seja o melhor escriba é incompatível com que você o seja”. No segundo, a interdependência pode ser positiva – duas cabeças pensam melhor que uma. O lado mais interessante é que começaram a ser sensatos até “na casa do rei”. Ter letra bonita, ser rápido ao escrever e cuidadosos ao fazer cópias são sendo as únicas características suficientes de um bom escriba. É também necessário trabalhar em equipe!
É difícil ter um modelo não sumério de escola, dispor as carteiras separadamente e pretender que crianças e jovens aprendam a trabalhar em equipe. O problema é que, em geral, os professores também foram formados ao estilo sumério tampouco aprenderam a trabalhar em conjunto, nem ensinar como trabalhar dessa maneira. Mas, precisamos admitir, houve que trabalhou de forma menos mesopotâmica. E tudo indica que essa minoria ganha força. Pelo menos é isso o que se pode deduzir de artigos sugestivos como o de Michael Cole, publicado na última edição do boletim da Associação Americana de Pesquisa Educacional, Educational Researcher. Ele reflete sobre as relações entre cultura e inspirou minha metáfora mesopotâmica – e análise de interesses experimentais recentes de escolas alternativas dos Estados Unidos. A idéia fundamental subjacente a essa Linha de pensamento é que crianças e jovens que vão juntos á escola não são potenciais rivais, nem meros companheiros. São coaprendizes. Na realidade, são copartícipes de seu processo de formação.
Crianças e jovens podem ainda não saber disso, mas o professor, encarregado de dirigir o processo, deveria sabê-lo. O professor pode trabalhar a favor da coparticipação, organizando atividades que facilitem o aprender com os outros. Por sua vez , experiência de aprender junto permite desenvolver habilidades de trabalho em equipe. No entanto, aprender com os outros não é somente algo que resulta no desenvolvimento de habilidades e conhecimentos curriculares. Refere-se, também, ao modo como orientamos a energia, o entusiasmo. O modo no qual orientamos nossa motivação se relaciona com a experiência que temos como o trabalho entre pares, de tal forma que, quando estamos com colegas que compartilham o objetivo de trabalho, nos sentimos mais seguros e somos capazes de aceitar a escola como um lugar para aprender, em vez de um lugar no qual temos que preservar nossa autoestima, evitando cometer erros e enfrentando aqueles que os cometem.
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