'Coração saindo pela boca', desabafa pai de bebê assassinado no Rio
'Pedindo forças porque tenho outro filho para criar', disse Luiz Soares.
Caso ocorreu no Morro de São Carlos; suspeita teria pisado na criança.
Cristiane Cardoso, Alba Valéria Mendonça e Daniel Silveira
Do G1 Rio
O pai do bebê de 7 meses morto no Morro do São Carlos, no Estácio, no
Centro do Rio, aguardava por volta das10h desta quarta-feira (26), no
Instituto Médico-Legal, também no Centro, a liberação do corpo da
criança. A babá dele foi presa suspeita do crime. Muito abalado, Luiz
Henrique Soares dos Santos, de 24 anos, disse ao
G1 que
está "com o coração saindo pela boca" desde que recebeu a notícia da
morte do filho. O bebê foi enterrado na tarde desta quarta, no cemitério
do Catumbi, Centro.
Enterro de Paulo Henrique Cesário, de 7 meses, assassinado no morro do São Carlos (Foto: Rafael Moraes/Agência O Globo)
O bebê Paulo Henrique Cesário dos Santos foi morto na noite de
terça-feira (25). Suspeita de matar a criança, a babá Ingrid de Carvalho
Cristiano, de 20 anos, foi presa em flagrante e levada para a 17ª DP
(São Cristóvão). De acordo com a polícia, ela teria confessado o crime e
justificado que "não aguentava o choro" da criança. Ingrid foi autuada
por homicídio doloso qualificado — quando há intenção de matar e por
motivo fútil.
"Estou pedindo forças porque tenho outro filho para criar. Ele é muito
apegado ao irmão e tem só três anos", desabafou. De acordo com Luiz
Henrique, Ingrid é vizinha da família e cuidava do bebê havia quatro
meses.
“Ela era conhecida de longe. Foi indicada pela colega da minha esposa
como babá. Ela olhava outras crianças na casa dela. Ela morava perto da
minha casa, era vizinha", afirmou o pai, acrescentando que a mulher,
Natalie Fernandes Cesário, de 31 anos, está "inconsolável".
O enterro de Paulo Henrique Cesário dos Santos será às 14h30 desta terça-feira no Cemitério do Catumbi, no Centro do Rio.
Luiz Henrique Soares dos Santos, de 24 anos,
aguarda a liberação do corpo do bebê Paulo
Henrique Cesário dos Santos no IML
(Foto: Alba Valéria Mendonça / G1)
Rosto inchado
De acordo com o pai, o bebê Paulo Henrique já havia aparecido com o
rosto inchado há dois meses. No entanto, o filho de 3 anos contou aos
pais que a criança havia caído da cama. “Como meu filho mais velho me
disse que ele tinha caído da cama, a gente achou que ele tinha caído
mesmo, nós acreditamos. Ele [irmão da vítima] estava com ela porque
estava de férias na creche”, declarou.
Luiz Henrique disse que espera agora que a "justiça seja feita". "A
vida vai ser difícil, foi tudo planejado [o bebê]. Infelizmente, vamos
tocar nossa vida porque tenho outro bebê para tomar conta. Tenho que
viver com isso. Com o tempo a gente vai se acostumando. Deus queira que a
justiça seja feita. Deus é maior", lamentou.
Ingrid de Carvalho Cristiano, de 20 anos, foi presa
e levada para a 17ª DP (São Cristóvão)
(Foto: Daniel Silveira / G1)
Filha teria delatado mãe
O servente de obras Luiz Henrique Soares contou que a família ficou
sabendo das agressões ao bebê pela própria filha de Ingrid, de 4 anos,
quando já estavam no corredor do Hospital Central da Polícia Militar.
Duas senhoras ouviram a menina e, segundo Luiz, contaram à polícia.
"Quando voltou do trabalho, minha mulher foi pegar a criança e
encontrou o Paulinho muito molinho. A Ingrid disse que ele estava
doente, que deu um banho nele e botou a criança para dormir. Minha
mulher correu com ele para o hospital e ela foi junto. No corredor, a
filha dela contou que a mãe tinha ido a uma festa, queria dormir e o
bebê estava chorando. Aí ela foi, colocou ele no chão e pisou no peito e
no pescoço do bebê", contou o pai.
Luiz contou ainda que Natalie já tinha pedido para ser demitida pra
ficar em casa cuidando do bebê. Luiz disse ainda que o casal tinha que
trabalhar porque está construindo uma casa para sair da casa dos pais,
no Morro de São Carlos.
O casal pagava R$150 para Ingrid tomar conta do bebê. "Jamais pensei
que ela fosse fazer uma coisa dessas com meu filho. Nunca imaginei.
Agora, só quero a justiça seja feita. Acredito até que pode ter
machucado outras crianças", disse o pai do bebê.
Natalino Cesário, avô do bebê, ainda muito abalado disse na manhã desta
quarta-feira (26), ao acompanhar o genro no IML, que "a ficha ainda não
caiu" e que ainda não sabe como vai explicar ao neto mais velho, Pedro,
de 3 anos, que o irmão morreu.
"Saio todo dia para passear com meu netinho Pedro. Como o Paulinho era
de colo, saía menos. Ele era chorão mesmo, mas era um bebê. Bebê tem de
chorar, mesmo. Sempre dizia que nasci, construí minha casinha, cuidei do
terreno para abrigar os filhos e que um dia seria enterrado ali pelos
meus netos. Mas, infelizmente, sou eu que estou enterrando meu netinho",
lamentou o avô.
Suspeita teria confessado
De acordo com a PM, Ingrid Carvalho Cristiano confessou o crime na 17ª
DP, onde o caso foi registrado. Ela foi presa por policiais militares do
4º BPM (São Cristóvão). De acordo com a polícia, Ingrid teria jogado a
criança no chão e, em seguida, dado cotoveladas e pisado em seu pescoço.
Ainda segundo a PM, ela alegou que estava cansada de ouvir o choro do
bebê.
Dezenas de curiosos se aglomeravam na porta da unidade policial na
manhã desta quarta e gritaram "assassina", quando a suspeita saiu do
local. Ingrid não esboçou reação e não quis falar sobre o crime. Da
delegacia ela foi levada para o Instituto Médico-Legal para exames de
corpo de delito. Em seguida, ela deve ser encaminhada para o sistema
penitenciário do estado.
Conforme as informações da PM, após o crime, a mãe do bebê e a suspeita
levaram, juntas, o corpo de Paulo até o Hospital Central da Polícia
Militar (HCPM). Da unidade, ambas foram levadas para a delegacia para
prestarem depoimento.