Por: Wanda Camargo
Professores da Universidade de São
Paulo (USP), em conjunto com o Centro de Políticas Públicas do
Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), realizaram extensivo estudo
sobre o Censo Educacional 2010, alertando sobre o grande número de
formandos em humanidades no país, com consequente diminuição das
remunerações dos profissionais destas atividades. Trazem também
informações sobre o crescimento da demanda por profissionais das áreas
ditas “duras”, mais voltadas ao aprofundamento científico e técnico.
O pouco estímulo às profissões que
exigem muitos anos de estudo, dedicação profunda e renúncia aos prazeres
momentâneos, como aquelas de áreas da saúde, informática, engenharias e
técnicas, produz dificuldades de desenvolvimento social e econômico do
país, e um verdadeiro apagão de mão-de-obra.
Embora haja um crescente movimento em
direção aos resultados educacionais, com indicadores e rankings
utilizados como diferencial competitivo e argumento de marketing, o
Brasil experimenta diversas metodologias de ensino sem, aparentemente,
muita segurança na obtenção de qualidade.
A defesa do ensino individualizado,
prioritariamente centrado em uma concepção generalista para a cidadania,
concentra carga horária nas questões éticas e de comportamento social,
em um foco necessário e importante, porém certamente não o único
necessário e importante na formação de jovens que enfrentarão uma
realidade difícil e competitiva, em que poucos terão as melhores
oportunidades.
A boa dieta educacional possivelmente
deveria ser frugal, consistente, de boa qualidade, contendo o necessário
na quantidade correta. Mas, frente às dúvidas sobre o melhor percurso
de formação, servimos aos alunos um cardápio exagerado, tentando
contemplar tudo o que julgamos indispensáveis à vida social, mesmo em
detrimento daquilo que a Escola tem a obrigação de prover: os currículos
tornam-se inchados, repletos de boas intenções, e a realização dessas
intenções muito raramente ocorre.
A nova geração valoriza em demasia as
últimas novidades da tecnologia da informação e comunicação,
disponibilidade de muito tempo para conectar-se às redes sociais, e,
recebendo educação com forte ênfase generalista, poderia ensejar maior
envolvimento em projetos de interesse social, em detrimento do egoísmo.
No entanto, observando os diversos grupos ou chats aos quais adere,
enquanto uns poucos tentam melhorar suas vizinhanças e escolas, parte
significativa apenas se fecha em comunidades com um tema comum, como a
dos adoradores de um determinado filme, ou rancorosos de certa pessoa, o
que, na medida em que se ampliam as adesões, aumenta o grau de certeza
sobre a crença que já se tem, e diminui a tolerância ao dissenso e à
inclusão.
Abaixo do discurso politicamente correto
aumentam os comportamentos excludentes, as intransigências e atitudes
violentas, perdendo-se a capacidade de reagir às frustrações e investir
em estudo, dedicação e paciência para atingir um objetivo remoto.
Importa o hoje, a satisfação momentânea e não a construção do futuro,
que quase sempre, infelizmente, implica em renúncia às compensações
imediatas.
Vamos amadurecendo frente às
dificuldades de opção entre os fins desejados e os meios necessários
para atingi-los, em uma sociedade que cultua o “jeitinho” em detrimento
do empenho, e a esperteza em lugar da inteligência.
* Wanda Camargo - educadora e assessora da presidência das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil.
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