Marina Franco e Vanessa Fajardo
Do G1, em São Paulo
Pais acumulam em casa material produzido desde a pré-escola.
Algumas escolas têm boas iniciativas para reaproveitar livros didáticos.
João Victor, aluno do 4º ano, mostra pilha de material produzido desde a pré-escola (Foto: Caio Kenji/G1)
Todos os anos as escolas encaminham aos pais o material produzido pelos
filhos durante o ano letivo. São desenhos, artesanato, exercícios,
lições e uma infinidade de material que muitas vezes não tem como ser
armazenado em casa. Outros itens que também costumam ficar sem destino
no fim de cada ano são os livros didáticos. O G1 ouviu educadores para dar dicas aos pais de como eles podem aproveitar estes materiais.
Quando acaba o ano letivo, Mônica Vegas Ferreira separa os livros
didáticos usados por seu filho, João Victor, que está no 4º ano do
colégio Oswald de Andrade, em São Paulo,
para doá-los para outras escolas e instituições filantrópicas com
bibliotecas. Mas costuma guardar os materiais mais marcantes do filho,
como seus primeiros cadernos de português e matemática, trabalhos de
artes ou presentes confeccionados para o dia das mães e dos pais, além
dos trabalhinhos produzidos na pré-escola.
"Costumo guardar algumas coisas num armário, outras uso de decoração
para a casa, como uma escultura de argila que está na sala e uma peneira
de palha que coloquei na varanda", afirma Mônica. "Uma vez ele fez uma
agenda telefônica com fotos do pai e a usamos até hoje."
Mônica Vegas Ferreira usa algumas produções do
filho para decorar a casa (Foto: Caio Kenji/G1)
filho para decorar a casa (Foto: Caio Kenji/G1)
Mas as lições em cadernos são jogadas fora. "Arranco as folhas usadas
dos cadernos, coloco para reciclar e consigo reaproveitar as folhas que
ficaram em branco", afirma a mãe. "No primeiro ano, fiquei com um pouco
de dó e guardei muita coisa, mas depois passei a doar e a reciclar." No
final de cada ano ela aproveita para rever o material guardado e se
desfazer de mais itens. Depois de falar com a reportagem, disse que
também descartou alguns materiais.
Luciana Fevorini, diretora do Colégio Equipe, em São Paulo, diz que os
trabalhos são importantes porque são o registro do processo de
aprendizado da criança, por isso o ideal não é descartá-lo
completamente. "Como educadora digo que vale a pena guardar. Uma boa
forma é selecionar os trabalhos junto com a criança e guardar o que for
mais significativo seja para mãe ou para a criança. A cada mudança de
ciclo, ou ano, vale refazer a seleção."
A recomendação é selecionar os trabalhos, no mínimo, um ano depois, para deixar passar a emoção e separá-los de forma mais racional. O que for descartado pode até ser dado para familiares como lembrança, sugere Luciana.
A recomendação é selecionar os trabalhos, no mínimo, um ano depois, para deixar passar a emoção e separá-los de forma mais racional. O que for descartado pode até ser dado para familiares como lembrança, sugere Luciana.
Acervo de João Victor tem apostilas, desenhos e até bonecos de argila (Foto: Caio Kenji/G1)
Digitalizar os trabalhos
A dica bibliotecária Maria Aparecida Dias do Colégio Rio Branco, unidade Granja Viana, é digitalizar os trabalhos mais importantes, o que permite manter o acervo sem ocupar espaço.
Ana Claudia Esteves Correa, orientadora educacional do ensino
fundamental dois da Stance Dual, em São Paulo, afirma que a escola
sugere que os pais guardem o material de um ano para outro, pois pode
servir de consulta. Depois deste período cabe a família decidir o
destino.
"Muitas famílias fazem uma seleção dos trabalhos que marcam o desenvolvimento de etapas da criança. A escola não vai fazer uso do material de novo, por isso muitas famílias dispensam. É uma opção de cada um", diz Ana Claudia. Na Stance Dual, os alunos dos 6º e 7º anos usam os cadernos por dois anos.
"Muitas famílias fazem uma seleção dos trabalhos que marcam o desenvolvimento de etapas da criança. A escola não vai fazer uso do material de novo, por isso muitas famílias dispensam. É uma opção de cada um", diz Ana Claudia. Na Stance Dual, os alunos dos 6º e 7º anos usam os cadernos por dois anos.
Samanha Seuz seleciona os trabalhos dos filhos
para depois mostrar como evoluíram
(Foto: Samanha Seuz/ Aquivo pessoal)
para depois mostrar como evoluíram
(Foto: Samanha Seuz/ Aquivo pessoal)
Seleção dos trabalhos
Este é um dos critérios de seleção de Samantha Matins Seuz, mãe dos gêmeos Sabrina e Gabriel, no 7º ano do colégio Rio Branco. "Guardo os trabalhos um pouco mais elaborados. Às vezes eles fazem livrinhos, em que escrevem historinhas e desenham. Então eu guardo para eles verem depois como evoluíram", diz Samantha.
Para ela, o fato de os alunos não escreverem mais nos livros didáticos aumenta a chance de reaproveitamento deste material. "Antigamente eu apagava o que estava escrito e doava alguns, mas outros não tinham condição e jogava fora. Mas agora que eles não escrevem mais no livro ficou melhor, então até tomo o cuidado de encapá-los para que fiquem em melhor estado de conservação e depois faço doação para escolas públicas", conta.
A orientadora educacional lembra que há papelarias que oferecem desconto para a compra de novos cadernos se os usados foram levados. Para quem optar pelo descarte dos materiais usados, Ana Claudia, reforça que sejam distribuídos para a reciclagem.
Troca de livros no Colégio Equipe
(Foto: Sérgio Furman/ Divulgação Colégio Equipe)
(Foto: Sérgio Furman/ Divulgação Colégio Equipe)
Reaproveitamento dos livros
Alguns colégios têm iniciativas que estimulam o reaproveitamento dos livros didáticos. Na Escola Stance Dual, ao fim do ano letivo todos os alunos doam seus livros para a escola. As obras são vendidas em uma feirinha montada pela escola por preços simbólicos que variam entre R$ 15 e R$ 20 – um novo pode custar até R$ 120. Todo o dinheiro arrecadado é revertido para uma ONG que atende deficientes visuais.
"A feirinha é antiga e tem adesão total dos alunos, há uma consciência ambiental e social. Com ela, reforçamos valores do consumo consciente e da sustentabilidade. As crianças usam os livros umas das outras sem nenhum problema", afirma Ana Claudia Esteves Correa. Além do mais, ver que o dinheiro é bem empregado estimula a participação dos alunos, segundo Ana Claudia.
No Colégio Equipe, os pais entregam os livros didáticos na biblioteca da escola e recebem um “vale”. Uma vez por ano há uma feira em que as pessoas que doaram podem retirar os títulos que lhe interessam. Se houver sobra, mesmo quem não doou também pode se beneficiar.
"Se tem mais de uma pessoa querendo o mesmo livro, fazemos um sorteio. Durante o ano, incentivamos os alunos a não escreverem nos livros para que ele seja reutilizado e não se torne descartável. Mas há também a troca informal de livros entre os alunos, principalmente os do ensino médio", diz Luciana Fevorini.
Produção antiga pode servir para comparar a
evolução do aluno, diz educadora (Foto:
evolução do aluno, diz educadora (Foto:
Caio Kenji/G1)
A unidade Granja Viana do Colégio Rio Branco, em Cotia, na Grande São
Paulo, fez pela primeira vez uma campanha para reaproveitar os livros
didáticos. Os alunos doaram para a biblioteca as obras que usaram
durante o ano letivo e não iriam mais utilizar e, na mesma ocasião, já
retiravam os que os interessava, referente ao ano seguinte. Se os
títulos que procuravam não estavam disponíveis, o registro era feito e a
bibliotecária entrava em contato assim que os livros chegassem. Foram
doados cerca de 500 livros, e 400 foram retirados.
"A maioria dos livros estava bem conservado, recebemos alguns
impecáveis, outros precisaram ser restaurados. A adesão foi muito boa,
os pais vibravam quando viam que tínhamos o livro que o filho precisava e
não houve qualquer rejeição por parte das crianças em reutilizar um
livro usado", afirma Maria Aparecida Dias, bibliotecária do Rio Branco.
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