Júri culpou o jogador por homicídio, ocultação, sequestro e cárcere privado.
Dayanne Rodrigues foi absolvida pelo sequestro e cárcere do filho de Eliza.
O júri popular formado por cinco mulheres e dois homens condenou no início da madrugada desta sexta-feira (23), no Fórum de Contagem, em Minas Gerais, o réu Bruno Fernandes de Souza a a 22 anos e 3 meses pelo assassinato e ocultação de cadáver de Eliza Samudio
e também pelo sequestro e cárcere privado do filho Bruninho. Dayanne
Rodrigues, ex-mulher do jogador, foi absolvida da acusação de sequestro e
cárcere privado do bebê.
Bruno e Dayanne ouvem a sentença lida pela juíza
no júri popular do caso Eliza (Foto: Léo Aragão / G1)
no júri popular do caso Eliza (Foto: Léo Aragão / G1)
Bruno foi condenado a 17 anos e 6 meses em regime fechado por homicídio
triplamente qualificado (por motivo torpe, asfixia e uso de recurso que
dificultou a defesa da vítima), a outros 3 anos e 3 meses em regime
aberto por sequestro e cárcere privado e ainda a mais 1 ano e 6 meses
por ocultação de cadáver. A pena foi aumentada porque o goleiro foi
considerado o mandante do crime, e reduzida pela confissão do jogador.
Eliza desapareceu em 2010 e seu corpo nunca foi achado. Ela tinha 25
anos e era mãe do filho recém-nascido do goleiro Bruno, de quem foi
amante. Na época, o jogador era titular do Flamengo e não reconhecia a
paternidade.
O advogado Lúcio Adolfo, que representa o atleta, disse que recorrerá
da condenação. O promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro afirmou que
esperava pena de 28 a 30 anos de prisão para o réu e anunciou que vai
recorrer para aumentar a punição.
A sentença da juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues foi lida em 19
minutos. Em sua decisão, ela disse que a personalidade de Bruno "é
desvirtuada e foge dos padrões mínimos de normalidade" e destacou que "o
réu tem incutido na sua personalidade uma total incompreensão dos
valores".
A magistrada afirmou ainda que "a execução do homicídio foi
meticulosamente calculada" e que "Bruno acreditou que, ao sumir com o
corpo, a impunidade seria certa".
Por fim, ela lembrou que, assassinada, "a vítima [Eliza Samudio] deixou órfão uma criança de apenas quatro meses de vida".
Para a Justiça, a ex-amante do jogador foi morta em 10 junho de 2010,
em Vespasiano (MG), após ter sido levada à força do Rio de Janeiro para o
sítio do goleiro em Esmeraldas (MG), onde foi mantida em cárcere
privado. A certidão de óbito foi emitida por determinação judicial. A
criança, que foi achada com desconhecidos em Ribeirão das Neves (MG),
hoje vive com a avó em Mato Grosso do Sul. Um exame de DNA comprovou a
paternidade.
A Promotoria afirma que, além de Bruno e Dayanne, mais sete pessoas
participaram dos crimes. Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, amigo
de Bruno, e Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do atleta, foram condenados no júri popular realizado em novembro de 2012.
No dia 22 de abril, Bola será julgado. Em 15 de maio, enfrentarão júri
Elenílson Vitor da Silva, caseiro do sítio, e Wemerson Marques de Souza,
amigo do goleiro. Sérgio Rosa Sales, primo de Bruno, foi morto a tiros
em agosto de 2012. Outro suspeito, Flávio Caetano Araújo, que chegou a
ser indiciado, foi absolvido (saiba quem são os réus).
Jorge Luiz Rosa, outro primo do goleiro, que era menor de idade na
época da morte, cumpriu medida socioeducativa por crimes similares a
homicídio e sequestro. Atualmente tem 19 anos e é considerado
testemunha-chave do caso.
Veja a seguir como foi o debate entre o promotor Henry Wagner
Vasconcelos de Castro e os advogados dos réus, na quinta-feira (7), e o
que aconteceu nos demais dias do júri popular:
O advogado Lúcio Adolfo faz a defesa de Bruno sob
olhares do promotor do caso(Foto: Léo Aragão/G1)
olhares do promotor do caso(Foto: Léo Aragão/G1)
Lúcio Adolfo, advogado de Bruno Fernandes de Souza, encerrou os debates
entre defesa e acusação pedindo aos jurados a absolvição do goleiro,
apesar de em nenhum momento ter afirmado que o jogador é inocente na
morte de Eliza Samudio. Ele voltou a falar que a ação tem falhas,
desqualificou o depoimento de Jorge Luiz Rosa, primo do atleta menor de
idade à época dos crimes, e acusou mais uma vez o Ministério Público de
ter feito um "acordo" com Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, para
"não passar vergonha". O defensor pediu aos jurados que, em caso de
condenação, a pena do goleiro seja menor que a de Macarrão. "Não deve
passar de 10 [anos]", disse.
'Pena máxima para Bruno'
Durante sua participação final nos debates do júri popular de Bruno e de Dayanne Rodrigues, o promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro pediu que o goleiro receba a pena máxima pela morte de Eliza Samudio e disse que o jogador e os demais envolvidos no assassinato "foram festejar a morte" da modelo após o crime. Somadas as duas vezes em que falou, ele teve quatro horas e meia para convencer os jurados.
Durante sua participação final nos debates do júri popular de Bruno e de Dayanne Rodrigues, o promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro pediu que o goleiro receba a pena máxima pela morte de Eliza Samudio e disse que o jogador e os demais envolvidos no assassinato "foram festejar a morte" da modelo após o crime. Somadas as duas vezes em que falou, ele teve quatro horas e meia para convencer os jurados.
Na quarta (6), durante o seu interrogatório, Bruno disse que foi a três festas e participou de uma partida de futebol com o time 100% depois da morte, da qual sabia a partir de conversa com Macarrão e com seu primo Jorge Luiz Rosa.
Em sua fala, Bruno reconheceu pela primeira vez que sabia que Eliza Samudio havia sido morta e, também pela primeira vez, implicou o policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola,
na morte da modelo, dizendo que ele havia sido contratado por Macarrão.
Hoje, ao falar mais uma vez a pedido da defesa, Bruno disse que "sabia e imaginava" que ela seria morta.
Com base no depoimento Jorge Luiz Rosa à polícia, o promotor descreveu como a modelo foi morta. "Saiu espuma branca da boca dela. Ela agonizou, espereceu e por fim, morreu",
disse conforme a testemunha. A mãe de Eliza Samudio, Sônia Moura, saiu
do plenário chorando com o relato. "Ninguém está em dúvida se Bola matou
a Eliza não", disse Henry Wagner de Castro. "O Bola matou a Eliza",
disse em seguida.
Lúcio Adolfo, à esquerda, conversam com colegas
da defesa no júri (Foto: Renata Caldeira / TJMG)
da defesa no júri (Foto: Renata Caldeira / TJMG)
'Negociata com Macarrão'
Na primeira vez que falou aos jurados, o advogado Lúcio Adolfo afirmou que a única prova do Ministério Público contra o goleiro Bruno é uma "negociata com Macarrão", em referência ao interrogatório em que Luiz Henrique Romão ligou o atleta à morte de Eliza Samudio, em novembro de 2010, antes de ser condenado a 15 anos de prisão.
Na primeira vez que falou aos jurados, o advogado Lúcio Adolfo afirmou que a única prova do Ministério Público contra o goleiro Bruno é uma "negociata com Macarrão", em referência ao interrogatório em que Luiz Henrique Romão ligou o atleta à morte de Eliza Samudio, em novembro de 2010, antes de ser condenado a 15 anos de prisão.
"O promotor tem mais dúvida que os senhores. Eles não têm prova contra
Bruno, tanto que precisou fazer um acordo com Macarrão", disse aos
jurados, classificando o suposto acerto de "excuso, indecente e imoral".
Macarrão pegou 15 anos de prisão – pena mínima por homicídio
qualificado em razão de sua confissão. Conforme a sentença da juíza
Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, ele foi condenado a 12 anos em regime
fechado por homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, asfixia
e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima) e mais três anos em
regime aberto por sequestro e cárcere privado. O amigo de Bruno foi
absolvido da acusação de ocultação de cadáver.
Durante o debate, o advogado do jogador classificou de "incompletas" as
provas e afirmou que não cabe a ele provar a morte de Eliza nem se "o
corpo estava aqui ou acolá". Ele disse ainda que o promotor fez um
"cineminha" no júri popular com imagens de reportagens sobre o caso.
"Essa é a prova do Ministério Público", ironizou. Afirmou também que o
atestado de óbito, expedido às vésperas do julgamento, "alimenta a
imprensa" e criticou o promotor do caso. "O doutor promotor só conseguiu
ficar bonito na tela de TV. Provar, nada".
O defensor apresentou três opções para os jurados: na primeira, pediu
absolvição por falta de provas; na segunda, defendeu uma participação
"menor" de Bruno no crime; e na terceira, disse que os jurados podem
entender que Bruno participou de outro crime, mas não da morte de Eliza.
Henry de Castro, na primeira vez que teve a palavra, pediu a absolvição de Dayanne Rodrigues, ex-mulher de Bruno. Ela chorou ao ouvir as palavras do promotor.
Segundo o responsável pela acusação, Dayanne deveria ser inocentada porque foi "coagida" pelo policial aposentado Zezé, José Lauriano, que hoje é investigado por participação no crime. Segundo ele, Bruno deixou a "mãe de suas filhas à mercê" de Zezé. "E Bruno conhecia o Zezé", disse.
Antes disso, a ex-mulher do goleiro pediu para ser ouvida novamente no júri popular para dizer que tem medo de José Lauriano.
Na nova fala, Dayanne disse que recebeu uma ligação do policial Zezé, em que ele dizia que Macarrão já o tinha avisado de que ela estava com o bebê, orientando para ela não comparecer com a criança na delegacia de polícia. "Eu senti medo naquele momento, tanto quanto estou sentindo agora, ainda mais depois que o Bruno falou ontem", disse.
'Sabia e imaginava'
Bruno, em um novo interrogatório na quinta (7) sobre a morte de Eliza, disse que "sabia e imaginava" que Eliza seria morta. A juíza Marixa Rodrigues determinou que ele retornasse ao plenário para ser ouvido novamente, a pedido de sua defesa.
"Pelas brigas constantes, pelo fato de eu ter entregado ao Macarrão o dinheiro", disse o jogador sobre estar ciente de que a modelo seria assassinada.
O promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro afirmou que agora é possível saber que o goleiro Bruno"mentiu", mesmo sabendo de toda a verdade sobre a morte de Eliza Samudio.
"O futebol perdeu um goleiro razoável, mas um grande ator", afirmou o promotor no início de sua primeira intervenção, afirmando que a "canalha quadrilha" levou Eliza do Rio de Janeiro para Minas Gerais e que ela nunca fez o exame de DNA porque Bruno não quis.
Segundo o acusador, Bruno agrediu Eliza, ameaçou a jovem de morte e tentou forçá-la a tomar abortivo. Para o promotor, o jogador se negava a atender o único pedido da vítima: o pagamento dos exames pré-natais.
"Bruno é o articulador, ele está no comando, ele está no controle, ele está na apuração", disse o promotor, que afirmou que Luiz Henrique Romão, o Macarrão, era "jagunço e faz-tudo" de Bruno. Por isso, o goleiro enviou, depois do crime, uma carta pedindo que o "irmão" assumisse a culpa em seu lugar.
O goleiro Bruno Fernandes de Souza disse na quarta-feira (6) que aceitou o fato de que Eliza Samudio havia sido assassinada a mando do amigo Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, sem tomar qualquer atitude e sem denunciar os envolvidos no crime. "Como mandante, dos fatos, não, eu nego. Mas de certa forma, me sinto culpado", afirmou o atleta. "Eu não sabia, eu não mandei, excelência, mas eu aceitei", disse à juíza Marixa Rodrigues.
O goleiro disse que Macarrão contou a ele que contratou Bola para matar Eliza. Foi a primeira vez que Bruno implicou Bola na morte da modelo, com quem o atleta teve um filho. O atleta reconheceu pela primeira vez que Eliza foi morta, culpou Macarrão pelo assassinato, negou ser o mandante do crime e disse acreditar que poderia ter evitado esse desfecho.
Bruno disse que não denunciou Macarrão pelo crime por "medo de acontecer alguma coisa" com as sua filhas e com ele próprio e também "pelo fato de conhecer ele há muito tempo".
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