Período de Sé Vacante termina com a eleição do novo Papa pelos cardeais.
Sem pontífice, oficiais de ministérios e congregações não exercem funções.
Bento XVI deixa sacada no Castel Gandolfo após falar que é só um 'peregrino' (Foto: Alessandra Tarantino/AP)
Com a renúncia do Papa Bento XVI,
que passou a valer a partir de 20h desta quinta-feira (28), 16h no
horário de Brasília, a Igreja Católica fica sem um líder, no período
conhecido como Sé Vacante. Esse intervalo termina com a eleição do novo
pontífice pelo Colégio de Cardeais, o conclave, que ainda não tem data
marcada.
Bento XVI, de 85 anos, anunciou surpreendentemente ao mundo, em 11 de
fevereiro, que renunciaria. Hoje, o alemão deixou o Vaticano de
helicóptero em direção a Castel Gandolfo, residência papal de verão, que
fica a 30 quilômetros da Santa Sé, onde disse que não é mais pontífice, "mas um simples peregrino encerrando seu caminho nesta terra".
Ele vai passar as próximas semanas no local, enquanto o conclave
escolhe seu sucessor, e em aproximadamente dois meses voltará ao Vaticano para levar vida contemplativa em um mosteiro.
De acordo com especialistas em Vaticano ouvidos pelo G1,
entre a efetivação da renúncia e o início da votação dos cardeais há um
grande movimento interno no Vaticano para decidir detalhes sobre o
conclave, além de uma articulação velada para debater o destino dos
votos.
Nesta sexta (1º), no primeiro dia de Bento XVI como Papa Emérito, o
cardeal Angelo Sodano, decano do Colégio Cardinalício, enviará
formalmente a convocação para que cardeais sigam até Roma para o
conclave. Feito isso, os cardeais já podem começar a se reunir para
refletir sobre a votação. A previsão é de que 115 cardeais participem da
sucessão – aptos a votar e a receber votos.
Dom Geraldo Majella Agnelo, cardeal arcebispo emérito de Salvador, disse ao G1
que na próxima segunda-feira (4), às 9h30 (13h30, horário de Brasília),
acontecerá a primeira reunião do Colégio de Cardeais para decidir
detalhes sobre o conclave.
A grande dúvida, segundo ele, é saber se a votação será adiantada, possibilidade que se tornou viável após alteração do Código Canônico feita por Bento XVI, na
última segunda (25) possibilitando que os cardeais possam iniciar o
conclave antes do prazo anteriormente estipulado para escolha do novo
Papa, de 15 dias após a morte ou renúncia de um pontífice.
De acordo com o cardeal Dom Raymundo Damasceno, de 76 anos, presidente
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e arcebispo de
Aparecida (SP), as reuniões pré-conclave podem ser encontros "de 2 dias,
3 dias, 4 dias", com sessões "na parte da manhã e durante a tarde".
"Os próprios cardeais decidirão a quantidade dessas congregações gerais
(...). Oficialmente, seremos convocados amanhã [sexta-feira], por
correspondência que será enviada ao local de cada um dos cardeais para
lermos e vermos quais serão as orientações que serão nos dada nesse
momento do pré-conclave e, talvez, já com informações para o conclave",
explicou Dom Damasceno ao G1.
Segundo Domingos Zamagna, mestre em ciências bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, até a escolha do novo Papa todos os oficiais responsáveis por dicastérios (ministérios e congregações da Igreja) ficam impedidos de exercer suas funções. Apenas tarefas simples poderão ter continuação.
Segundo Domingos Zamagna, mestre em ciências bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, até a escolha do novo Papa todos os oficiais responsáveis por dicastérios (ministérios e congregações da Igreja) ficam impedidos de exercer suas funções. Apenas tarefas simples poderão ter continuação.
No entanto, quatro funções importantes permanecem no poder durante a
ausência do líder da Igreja Católica: o camerlengo, que vai presidir o
conselho de cardeais antes do conclave e a reunião que vai escolher o
novo pontífice; o penitenciário-mor, responsável pelo Tribunal da
Penitenciária Apostólica, que cuida do perdão a casos graves; o cardeal
vigário-geral para a diocese de Roma, que atua na administração da
Igreja na região de Roma; e o cardeal arcipreste da Basílica de São
Pedro e vigário geral de Sua Santidade pela Cidade do Vaticano,
responsável pelas necessidades espirituais da Cidade do Vaticano.
De acordo com o Frei Evaldo Xavier Gomes, consultor jurídico-canônico
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a residência papal e
o escritório que era utilizado por Bento XVI são lacrados até a escolha
do novo Papa.
"As janelas dos aposentos, que ficam abertas constantemente para a
Praça de São Pedro, permanecem fechadas. Ninguém pode sentar no Trono de
São Pedro [que fica na Basílica de São Pedro] durante a Sé Vacante",
explicou.
O religioso disse ainda que são mantidos ritos e celebrações da Igreja que acontecem no tempo da Quaresma – atual
período litúrgico, que antecede a Semana Santa. Mas há uma alteração
que deve ser realizada por todos os sacerdotes nas missas.
Durante a Oração Eucarística, rito onde, para os cristãos católicos, o
pão e o vinho se tornam o Corpo e Sangue de Jesus Cristo, não se
pronuncia o nome do Papa. "É a única coisa que altera durante esse
período e é uma forma dos católicos perceberem que a Igreja está em um
processo de transição", esclareceu o frei.
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