Veja
Rita Loiola
Pessoas com graus mais severos do transtorno, como a personagem de 'Amor à Vida', podem ter dificuldade de ler expressões faciais e compreender emoções alheias
O beijo entre Linda (Bruna Linzmeyer) e Rafael (Rainer Cadete) - Divulgação/TV Globo
O romance vivido pela personagem autista Linda (Bruna Linzmeyer) de Amor à Vida tem intrigado quem assiste aos capítulos da novela. Na última semana, ela e o advogado Rafael (Rainer Cadete) se beijaram e o rapaz foi preso – mas o namoro parece caminhar para um final feliz.
O autismo, transtorno que afeta cerca de 1% da população e compromete
as habilidades comunicativas, cognitivas e emocionais, pode ter níveis
variados. Pacientes com quadros mais suaves, conhecidos como Síndrome de
Asperger, normalmente casam-se e têm filhos. Já pessoas com autismo
grave, por ter dificuldades de discernimento, não devem cultivar
relacionamentos amorosos. É o caso de Linda.
Segundo a psicóloga Ana Arantes, professora do curso de pós-graduação
de Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo da Universidade Federal
de São Carlos (Ufscar), o envolvimento de Linda, uma menina com sério
comprometimento cognitivo e comunicativo, com um adulto mais velho,
plenamente capaz, sem o consentimento da família, não deve acontecer.
Pessoas com autismo podem ter dificuldade de ler expressões faciais e
compreender sinais de emoção alheios.
"Para muitos autistas é difícil reconhecer metáforas, ironia, duplos sentidos e insinuações. O perigo de se envolver com pessoas mal intencionadas é maior”, afirma Ana ao site de VEJA. "Por outro lado, quando a família e a comunidade estão atentas e podem monitorar o relacionamento, essa pode ser uma fonte de estímulo importante para o desenvolvimento da comunicação, expressão e compreensão de emoções e sentimentos do autista." Na última terça-feira, a psicóloga escreveu sobre o assunto um post em seu blog, texto curtido por 38 000 pessoas.
"Para muitos autistas é difícil reconhecer metáforas, ironia, duplos sentidos e insinuações. O perigo de se envolver com pessoas mal intencionadas é maior”, afirma Ana ao site de VEJA. "Por outro lado, quando a família e a comunidade estão atentas e podem monitorar o relacionamento, essa pode ser uma fonte de estímulo importante para o desenvolvimento da comunicação, expressão e compreensão de emoções e sentimentos do autista." Na última terça-feira, a psicóloga escreveu sobre o assunto um post em seu blog, texto curtido por 38 000 pessoas.
Sem beijos – O psiquiatra Estevão Vadasz, criador do
Programa de Transtornos do Espectro Autista (PROTEA) do Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, concorda que a
personagem de Amor à Vida, com o quadro severo da doença, não
deveria se relacionar com um homem. Perante a lei, Linda é considerada
incapaz – a exemplo dos menores de dezesseis anos – e Rafael, capaz.
"Para se envolver com uma pessoa assim, o autista teria de passar por
uma perícia judicial. Apenas depois de uma avaliação com especialistas
mostrando que ele tem discernimento e crítica, ele poderia estar com
outra pessoa", afirma Vadasz. "Se uma autista engravidar, é preciso
considerar se ela será capaz de cuidar de um filho. Por isso, é preciso
tomar todos os cuidados", afirma Vadasz.
A evolução de Linda ao longo da novela, que passou de autista grave
para alguém com sintomas de uma síndrome mais branda, é um caminho
praticamente impossível na vida real. "Mesmo que existam graus
diferentes de autismo, o padrão de comportamento e o grau de severidade
não variam de uma hora para a outra. O autista pode se desenvolver
gradativamente ao longo de um tratamento sistemático e intensivo", diz
Ana.
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