Jovem vai publicar livro sobre experiência em 32 países.
Ele economizou desde a adolescência para fazer a viagem.
Felipe dando aula em uma escola durante a viagem (Foto: Felipe Pereira/Arquivo pessoal)
Um sonho de criança que virou realidade – e que agora vai virar livro.
Assim pode ser definida a viagem pelo mundo do estudante Felipe Pereira,
de 21 anos, que há dois anos e meio trancou o curso de publicidade e
saiu do Brasil em uma jornada por 32 países, realizando um desejo que
tinha desde os 13 anos de idade.
Para manter vivo o espírito juvenil que o havia impelido a viajar,
Felipe se propôs a entrevistar crianças que encontrava pelo caminho.
“Queria ouvir as palavras, os sonhos, a visão de mundo delas, e
recuperar um pouco da juventude que eu e todo mundo perdemos a cada
dia”, diz o garoto. Agora, já de volta ao Brasil, ele está reunindo em
livro as fotos e os relatos das conversas que teve com os pequenos em
três continentes (Ásia, Europa e América Central).
A publicação, batizada de "Jovem o Suficiente", será bancada por uma
campanha de financiamento coletivo na internet. Ela foi escrita
originalmente como uma carta para o melhor amigo de Felipe, que na
adolescência compartilhava com ele o sonho da viagem, mas acabou se
distanciando quando atingiu a maioridade. “De repente ele parou de
conviver com os amigos, se isolou em um lugar distante sem comunicação.
Temos visões de mundo muito diferentes hoje, e eu queria contar para ele
as experiências e o que estava aprendendo na viagem”, conta ele.
Cirurgia e paraíso do surfe
O brasileiro em uma casa indiana (Foto: Felipe Pereira/Arquivo pessoal)
Felipe afirma que financiou a aventura com as economias que juntou
desde adolescente, muitas delas obtidas em concursos culturais. O garoto
conta que ganhou cerca de 20 promoções onde eram escolhidas as
respostas mais criativas, e vendia na internet os prêmios que recebia
(TVs, videogames etc.) para economizar para uma futura volta ao mundo.
Ao traçar seu itinerário, ele deu preferência a cidades pequenas e
vilas fora do circuito turístico tradicional. Locomovia-se de avião,
ônibus e também de carona.
No início, dormia em hostels, mas depois começou a se hospedar na casa
de pessoas que conhecia no caminho, em busca de uma experiência mais
“autêntica”. Parte dessa experiência foi dormir também em lugares
públicos, como uma ruína grega, um trailer abandonado, na praia e na
encosta de um morro.
Ele enfrentou também momentos difíceis. Passou por uma cirurgia na
Bulgária, viu um menino morrer esmagado por um trem na Índia e conheceu
uma criança que depois foi vítima de um atentado terrorista na Ásia. “Vi
gente perdendo a vida mais de uma vez. Foi chocante. Meu anjo da guarda
foi forte”, diz, no vídeo que preparou para falar do seu projeto do livro.
Mas as lembranças são, em sua maioria, positivas, como quando passou um
mês em um vilarejo na Indonésia, dando aulas de inglês em uma escola,
surfando e jogando bola. “Era o paraíso”, diz.
Os sonhos das crianças
O
menino hondurenho e a menina cigana romena foram algumas crianças que
Felipe encontrou pelo caminho (Foto: Felipe Pereira/Arquivo pessoal)
Felipe conversou com crianças de todas as classes sociais, religiões e
idades – moradores de rua na Romênia, habitantes de arquipélagos
isolados em Honduras ou de um condomínio de luxo na Espanha.
Para superar a barreira der não falar o idioma local, Felipe muitas
vezes se aproximava brincando com bolinhas de malabares. “A criançada se
aglomerava em volta e começava a interagir. Sempre aparecia uma alma
boa que falava inglês ou espanhol para me ajudar a traduzir”, conta.
As perguntas que ele fazia eram variadas. Entre elas, “em que
acreditavam?”, “de que tinham medo?”; “com o que sonhavam?” e “o que
esperavam do futuro delas e do planeta?”.
Segundo ele, alguns relatos o fizeram chorar. “Os sonhos delas variavam
muito, desde ser paleontologista a tirar o pai da prisão, conhecer a
internet, coisas que são tão comuns e banais para nós”, diz.
Algumas respostas também o fizeram rir, como a de um menino no Camboja
que disse que quando crescesse queria ser “peludo” como ele. “Lá eles
não têm muitos pelos no corpo. Eu estava em uma cachoeira, tirei a
camisa e todo mundo começou a tirar foto. Esse menino passou a tarde
toda abraçado na minha perna”, explica.
Felipe diz que todas as crianças que encontrou o marcaram de alguma
forma. “Todas elas tinham uma contribuição para dar, fosse uma palavra
ou mesmo um gesto”, afirma.
Crianças brincam de roda na Índia (Foto: Felipe Pereira/Arquivo pessoal)
Crianças no Tibete (Foto: Felipe Pereira/Arquivo pessoal)
Felipe com maquinistas mirins na Hungria (Foto: Felipe Pereira/Arquivo pessoal)
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