Apresentador do Discovery Channel se propôs a ser 'comido vivo' por cobra.
Ele desistiu e telespectadores americanos se revoltaram no Twitter.
Sucuri
de 4 metros de comprimento está abrigada no Museu Biológico do
Instituto Butantan (Foto: Acervo Instituto Butantan/Giuseppe
Puorto/Divulgação)
Estreou esta semana nos Estados Unidos um programa do Discovery Channel que anunciava que o apresentador seria “comido vivo” por uma sucuri
(ou anaconda, como a serpente é chamada nos Estados Unidos). Os
telespectadores se decepcionaram e manifestaram indignação no Twitter ao
constatar que o naturalista Paul Rosolie desistiu no meio da
empreitada. Mas uma cobra seria capaz de engolir um homem adulto, como
sugeria a premissa do programa?
Para o zoólogo e herpetólogo Giuseppe Puorto, diretor do Museu
Biológico do Instituto Butantan, em São Paulo, uma sucuri dificilmente
conseguiria ingerir o apresentador. Ele observa que não há nenhum relato
oficial na literatura científica de que uma cobra tenha engolido um
homem adulto.
Apresentador do programa norte-americano 'Eaten
alive' é envolvido por anaconda em episódio final do
programa (Foto: Reprodução / Discovery Channel)
alive' é envolvido por anaconda em episódio final do
programa (Foto: Reprodução / Discovery Channel)
Foto publicada por Paul Rosolie no Twitter
(Foto: Reprodução/Twitter/Paul Rosolie)
(Foto: Reprodução/Twitter/Paul Rosolie)
“Tem muita especulação, principalmente na internet. Mas olhando do
ponto de vista da anatomia, podemos nos perguntar se uma cobra
conseguiria ingerir um homem. A resposta é que, se for uma sucuri de
porte grande, ela teria condições de ingerir uma pessoa magra e
pequena”, diz. A maior dificuldade, segundo o especialista, seria para o
ombro passar pela boca da cobra.
No caso de Paul Rosalie, os trajes especiais que ele vestia
representariam uma dificuldade a mais para a serpente, não apenas por
aumentar o tamanho do ombro. Puorto explica que a sucuri usa os dentes
para segurar a cabeça da presa e empurrá-la para o fundo da boca. O
capacete não permitiria que ela fizesse esse movimento. Além disso, ela
só começa a engolir a presa quando percebe que ela já não tem mais
pulsação.
De qualquer forma, o homem não faz parte do cardápio da sucuri. Para
Puorto, a iniciativa do programa foi despropositada e pode ter gerado
estresse e desconforto desnecessários para o bicho. Sem contar o risco
de a cobra não ter soltado o apresentador, caso em que poderia ter sido
necessário matá-la para liberar a presa.
ENTENDA COMO É O PROCESSO DE CAPTURA, INGESTÃO E DIGESTÃO DA SUCURI
Capturando e matando
Sucuris comem mamíferos de pequeno e médio porte, de acordo com seu tamanho. “Ela pode comer uma capivara, um veado... Se ela tiver um porte muito grande, de 6 metros, tem capacidade de ingerir um bezerro ou um jacaré. Pode comer também aves”, diz Puorto.
Sucuris comem mamíferos de pequeno e médio porte, de acordo com seu tamanho. “Ela pode comer uma capivara, um veado... Se ela tiver um porte muito grande, de 6 metros, tem capacidade de ingerir um bezerro ou um jacaré. Pode comer também aves”, diz Puorto.
Quando vai se alimentar, procura a presa que estiver disponível, se
aproxima muito devagar e dá o bote o mais próximo possível da cabeça.
Automaticamente, começa a se enrolar, dando duas ou três voltas na
presa.
“Depois, ela começa a apertar a presa, que morre por asfixia. Enquanto
percebe pulsação, vai apertando. Quando percebe que não tem mais
pulsação, continua segurando por alguns minutos.”
Engolindo
Ela, então, solta a boca do local onde deu o bote e procura o ponto mais próximo da cabeça para começar a engolir. Quando acha a cabeça – o que faz observando a direção dos pelos do animal – procura o focinho e, aos poucos, abre a boca e, prendendo a cabeça com os dentes, vai avançando.
Ela, então, solta a boca do local onde deu o bote e procura o ponto mais próximo da cabeça para começar a engolir. Quando acha a cabeça – o que faz observando a direção dos pelos do animal – procura o focinho e, aos poucos, abre a boca e, prendendo a cabeça com os dentes, vai avançando.
A mandíbula da cobra não é unida como a nossa: ela tem um osso
intermediário que une a mandíbula à cabeça, por isso ela consegue abrir a
boca em até 180 graus. “Com toda essas características da anatomia, ela
vai aos poucos abocanhando e se moldando ao tamanho da presa. Então,
ela solta as voltas que deu ao redor do animal, segurando-o com apenas
uma das voltas, para ter apoio para a cabeça avançar. É um processo
demorado, lento”, descreve o especialista.
Fazendo a digestão
Depois de engolir, a presa vai parar no estômago, onde começa o processo digestivo. Sucos gástricos potentes começam a fazer a digestão e ela consegue digerir praticamente tudo, incluindo músculo e ossos. “Só não consegue digerir unha, dente, pelos e penas, que saem nas fezes.”
Depois de engolir, a presa vai parar no estômago, onde começa o processo digestivo. Sucos gástricos potentes começam a fazer a digestão e ela consegue digerir praticamente tudo, incluindo músculo e ossos. “Só não consegue digerir unha, dente, pelos e penas, que saem nas fezes.”
Quando o animal está em condições favoráveis, em uma boa temperatura,
ele vai se recolher e digerir durante um bom tempo. “Estando alimentada,
a cobra fica mais lenta, com dificuldade de mobilidade. Numa reação
instintiva de sobrevivência, se for perturbada, ela pode regurgitar
neste momento.”
Um processo completo de digestão pode levar até 15 dias e uma cobra de
grande porte pode precisar se alimentar só uma vez por mês. “No Museu
Biológico do Instituto Butantan, alimentamos as sucuris uma vez por mês.
Na natureza, quando ela terminar o processo digestivo e defecar, pode
sair a procura de outra presa”, diz o zoólogo.
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