Jovem disse que recebeu promessa de trabalho ao entregar cheques.
Ela sonha em ter salário melhor para comprar a casa própria.
Após promessa de novo emprego, Ana sonha com casa própria para família (Foto: Rodolfo Tiengo/G1)
A catadora de recicláveis Ana dos Santos Cruz, de 23 anos, completa
nesta quinta-feira (29) quatro meses na cooperativa de material
reciclável em que trabalha atualmente. Quase uma semana depois de
devolver R$ 250 mil em cheques de doações encontrados no lixo ao
Hospital de Câncer de Barretos (SP), ela ainda espera ser chamada para ser contratada pela unidade e mantém as esperanças de melhorar suas condições de vida.
Uma vaga de trabalho num dos principais centros médicos de tratamento
oncológico do país foi a promessa, segundo ela, feita pela própria
direção na última sexta-feira (23), como recompensa pelo ato de
honestidade. "Henrique Prata [diretor do hospital] falou que eu poderia
trabalhar lá a qualquer hora que eu quisesse", diz ela.
O hospital, no entanto, não confirma se haverá ou não contratação.
Rotina pesada
Encontrar os cheques de alto valor no meio do lixo e devolvê-los pessoalmente ao diretor do hospital, Henrique Prata, surgiu para Ana como uma chance de deixar o que ela hoje considera uma rotina difícil.
Encontrar os cheques de alto valor no meio do lixo e devolvê-los pessoalmente ao diretor do hospital, Henrique Prata, surgiu para Ana como uma chance de deixar o que ela hoje considera uma rotina difícil.
A catadora, que cuida do filho de 3 anos sem a presença do marido,
preso por tráfico de drogas, relata que chega a trabalhar dez horas por
dia recolhendo materiais recicláveis em pontos de coleta da cidade.
"Eu ganho muito pouco e o serviço lá é muito pesado. Pra falar a
verdade, é serviço de homem. As mulheres só entram ali quando precisam
muito. Eu sou a única mulher que entrou jovem lá", afirma a catadora,
que conta que começa seu trabalho às 8h e termina por volta das 18h
diariamente.
Ana devolveu R$ 250 mil em cheques doados ao
Hospital de Câncer (Foto: Rodolfo Tiengo/G1)
Hospital de Câncer (Foto: Rodolfo Tiengo/G1)
Apesar do esforço, o dinheiro que ganha ainda não foi o suficiente para
que tenha sua própria casa para morar com seu filho Maurício, de 3
anos, e recomeçar a vida com seu marido. Atualmente, Ana vive com os
pais na mesma casa em que foi criada pela família desde quando nasceu,
na periferia de Barretos. "Não tenho condições de pagar aluguel."
A catadora afirma que, apesar da promessa que diz ter recebido, ainda
não foi procurada pelo hospital e não tem ideia de que tipo de função
pode vir a exercer na empresa.
"Acredito que as coisas vão melhorar bastante depois dessa honestidade
que tive. Eu tenho sonho de ter minha própria casa, onde possa haver um
quarto só para mim e outro só para meu filho. Também quero construir
uma casa para minha mãe, também penso nos sonhos dela", diz.
Enquanto permanece na espera de conseguir um trabalho novo no hospital,
Ana já colhe os frutos pelo gesto através do reconhecimento dos
moradores de Barretos. "Quando fui descer para o serviço, um moço veio
me pedir autógrafo. No meu Facebook, também tem muita gente falando isso
bastante."
Sonhos
A casa própria é apenas um dos sonhos de Ana, que se diz motivada com a possibilidade de conseguir deixar a periferia com a família e ainda cursar uma faculdade.
A casa própria é apenas um dos sonhos de Ana, que se diz motivada com a possibilidade de conseguir deixar a periferia com a família e ainda cursar uma faculdade.
Ana afirma que não conseguiu concluir o ensino médio porque desde jovem
começou a trabalhar como babá, faxineira e garçonete, para ajudar a
sustentar a família. "Eu sempre quis ser médica ou enfermeira. Quem sabe
agora eu consigo?", planeja.
A catadora também espera que possa ajudar o marido a conseguir um
emprego depois que ele deixar a penitenciária de Cerqueira César (SP),
onde está preso há dois anos. "Ele fala que não é essa a vida que ele
quer, está arrependido, chora muito. Agora, vai ter orgulho de mim pelo
que fiz. Essa é a hora das oportunidades", afirma.
R$ 250 mil no lixo
Ao sair do barracão da cooperativa para recolher papelão no Hospital de Câncer de Barretos no último dia 22, Ana não imaginava o que iria encontrar. Em meio ao lixo, um saco transparente com uma agenda e um envelope chamaram a atenção da catadora. Eram R$ 250 mil em cheques, que tinham sido doados ao HC.
Ao sair do barracão da cooperativa para recolher papelão no Hospital de Câncer de Barretos no último dia 22, Ana não imaginava o que iria encontrar. Em meio ao lixo, um saco transparente com uma agenda e um envelope chamaram a atenção da catadora. Eram R$ 250 mil em cheques, que tinham sido doados ao HC.
À noite, o cunhado dela ligou para o hospital, informando que Ana
gostaria de entregar o dinheiro pessoalmente ao diretor-geral da
instituição, Henrique Prata. Ao ser informada de que Prata estava
viajando, a catadora decidiu procurar um canal de TV local.
No dia seguinte, ela entregou o dinheiro nas mãos de Prata,
oportunidade em que o diretor do hospital teria lhe oferecido um novo
emprego dentro da instituição como recompensa pelo ato. "Jamais pensei
em ficar com aqueles cheques. Os pacientes do hospital precisam muito
mais do que eu", diz Ana.
Hospital de Câncer
Em nota, o Hospital de Câncer de Barretos esclareceu que os cheques encontrados no lixo da unidade foram doados durante um leilão de gado em São José dos Quatro Marcos (MT). Segundo a instituição, as doações foram descartadas por erro de um funcionário, mas não esclareceu se o trabalhador receberá algum tipo de punição, ou se será aberta sindicância para investigar os fatos.
Em nota, o Hospital de Câncer de Barretos esclareceu que os cheques encontrados no lixo da unidade foram doados durante um leilão de gado em São José dos Quatro Marcos (MT). Segundo a instituição, as doações foram descartadas por erro de um funcionário, mas não esclareceu se o trabalhador receberá algum tipo de punição, ou se será aberta sindicância para investigar os fatos.
Questionado sobre a contratação de Ana, o hospital também não confirmou.
Catadora conta que divide o quarto com o filho na casa dos pais em Barretos (Foto: Rodolfo Tiengo/G1)
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