Ana Cristina Campos/Agência Brasil
O
número pode sofrer alterações, pois os requerimentos das candidaturas
ainda estão sendo julgados pela Justiça Eleitoral. (Foto: Divulgação)
BRASÍLIA
- As eleições de outubro terão pelo menos 53 candidaturas de pessoas
trans, número dez vezes maior que no pleito de 2014 quando a Associação
Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) contabilizou cinco
postulantes a cargos eletivos. O número pode sofrer alterações, pois os
requerimentos das candidaturas ainda estão sendo julgados pela Justiça
Eleitoral.
Segundo
a associação, uma candidata concorre ao Senado, 17 concorrem a deputada
federal, 33 disputam para deputada estadual e duas, a deputada
distrital. O PSOL é o partido com maior número de candidaturas trans
(20), seguido do PT (5) e do PCdoB (5). PSB traz quatro representantes
para a disputa eleitoral e PMB, três. PSDB, Rede, MDB e PCB têm duas
candidaturas cada. Já o PDT, DEM, Avante, PPS, PP, PTB, PSD e PHS contam
com uma candidata trans cada.
O
levantamento da Antra inclui tanto as candidaturas de pessoas trans que
já retificaram o nome em cartório, como aquelas que registraram o nome
social – forma como transexuais e travestis querem ser reconhecidos
socialmente. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou, em março, o
uso do nome social na urna para candidatos transgêneros e registra 28
candidaturas com o nome de escolha no pleito de 2018.
Avanço
Concorrendo
pela primeira vez, Paula Benett disputa uma vaga na Câmara Legislativa
do Distrito Federal. Ela é uma das candidatas trans que não concorrem
com nome social por já ter mudado anteriormente seu registro civil.
Paula
destaca o avanço do uso do nome social para o pleito de outubro ao
garantir respeito à identidade de gênero das pessoas trans. “A decisão
da Justiça Eleitoral também traz respeito à identidade de gênero no que
se refere à cota das mulheres. O Fundo Partidário destina 30% dos
recursos para o gênero feminino. Ou seja: travestis e mulheres
transexuais recebem desse fundo”, acrescentou.
Primeira
mulher trans a ocupar o cargo de coordenadora de política LGBT na
Secretaria da Mulher do Distrito Federal, Paula diz que tem oito
projetos prioritários para esse público, entre eles a construção de uma
casa de acolhimento para pessoas LGBT em situação de rua e em
vulnerabilidade social e criação de uma agência de trabalho.
Status quo
A
travesti Duda Salabert, de 36 anos, que concorre ao Senado por Minas
Gerais com seu nome social, destacou que não quer que sua candidatura
seja reduzida apenas ao debate da transexualidade.
“A
pauta central da minha candidatura é educação já que sou professora há
18 anos. Defendo o ensino público, as universidades públicas, a pesquisa
e trago a proposta de perdão da dívida do Fies [Fundo de Financiamento
Estudantil] para os estudantes desempregados”, disse. “Investir em
educação é investir no combate à LGBTfobia”.
Educadora
popular, presidente da ONG Tranvest em Belo Horizonte, que oferece
cursos gratuitos para travestis e transexuais e tem uma casa de
acolhimento para a população transgênera em situação de rua, Duda conta
que concorre ao Senado para mudar o status quo que, historicamente,
exclui a pauta transexual.
“A candidatura ao
Senado assume uma dimensão simbólica já que Senado, na sua etimologia,
significa senhores, uma casa feita para senhores. Aí uma travesti
disputar esse espaço torna a candidatura extremamente política, propondo
uma nova moral de respeito à diversidade”, afirmou.
Consolidação
Para
Keila Simpson, presidente da Antra, a população LGBT, especialmente a
população trans, entrou de vez na disputa eleitoral este ano. “A disputa
político-partidária das pessoas trans começou a se infiltrar muito
timidamente e hoje está consolidada. É claro que a gente precisa avançar
e passar para a sociedade que uma candidatura LGBT e trans não
significa que o candidato ou a candidata, se eleito ou eleita for, vai
responder apenas para a comunidade LGBT. São candidaturas plurais, não é
candidatura de uma pauta só”.
Keila
destacou, no entanto, que uma pauta prioritária é a questão da
violência. Apenas em 2018, já passa de 100 o número de assassinatos da
população trans. No ano passado foram 179. “A nossa principal demanda é
esta: erradicar a violência e os assassinatos da nossa comunidade”.
Transfobia
Para
a presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), Symmy Larrat, a comunidade
enfrenta transfobia em todos os partidos. “Ainda é difícil dentro dos
partidos sanar essa disputa. Temos problemas de abrir espaço não só para
a pauta como também de orientação para os trans com a ajuda de um
mínimo de estrutura”.
Ainda segundo Symmy, a
ABGLT vai buscar parceiros como organizações, empresas, escritórios de
advocacia e contabilidade para que nas próximas eleições a entidade
consiga assessorar travestis e transexuais na disputa eleitoral.
Levantamento
da associação registra 138 candidaturas LGBT para o pleito de outubro.
“As LGBT precisam debater uma reforma política que contemple e ajude
essas pessoas a concorrerem de forma mais igual”.
Eleitorado
Primeiro
pleito no país a aceitar o uso do nome social, o TSE contabiliza 6.280
eleitores com o nome de escolha impresso no título. Foram feitos 1.805
pedidos em São Paulo, 647 em Minas Gerais e 426 no Rio de Janeiro,
maiores colégios eleitorais do país. Do total, cinco eleitores
brasileiros no exterior optaram por usar o nome social.
Em
relação ao grau de instrução, 2.633 têm ensino médio completo, 1.144
têm ensino médio incompleto e 826, superior completo. Quanto à faixa
etária, 1.402 pessoas estão entre 21 e 24 anos, 1.366 entre 25 e 29 anos
e 867 entre 30 e 34 anos.
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