Eles criticaram questão com citação de Simone de Beauvoir.
Deputada Maria do Rosário e ex-ministro Janine elogiaram tema de redação.
Os deputados Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Marcos Feliciano (PSC-SP) usaram
as redes sociais neste fim de semana para acusar o Exame Nacional do
Ensino Médio de doutrinação. O motivo da reclamação foi uma questão da
prova de ciências humanas, que abordou a célebre frase "Não se nasce
mulher, torna-se mulher", da escritora e filósofa francesa Simone de
Beauvoir. A questão abordava o tema das lutas feministas no início do
século XX.
O deputado Jair Bolsonaro acusou o governo de fazer 'doutrinação' na prova do Enem 2015
(Foto: Reprodução/Facebook)
(Foto: Reprodução/Facebook)
"Mais ou tão grave quanto a corrupção é a doutrinação imposta pelo PT
junto a nossa juventude", afirmou Bolsonaro em seu perfil pessoal no
Facebook, na noite deste sábado (24). "O João não nasceu homem e a Maria
não nasceu mulher", ironizou ele.
"O sonho petista em querer nos transformar em idiotas materializa-se em
várias questões do ENEM (Exame Nacional do Ensino MARXISTA)", completou
o deputado.
Na tarde deste domingo (25), Marcos Feliciano também usou seu perfil no Facebook para criticar a questão.
"Essa frase da Filósofa Simone de Beauvoir é apenas opinião pessoal da
autora, e me parece que a inserção desse texto, uma escolha adrede,
ardilosa e discrepante do que se tem decidido sobre o que se deve
ensinar aos nossos jovens", disse ele.
"Esse texto se encaixa como luva na teoria de gênero, apesar de questionável por se tratar da opinião de uma mulher polêmica, feminista da mais retrógrada cepa, com linguajar que denigre as mulheres comparando-as aos eunucos criando um limbo entre o homem e a mulher muito em voga nos anos 60", continuou. Segundo ele, o objetivo de sua crítica foi "vigiar quando tentam impingir a teoria de gênero goela abaixo, com subterfúgios, quando não conseguem nas casas legislativas".
"Esse texto se encaixa como luva na teoria de gênero, apesar de questionável por se tratar da opinião de uma mulher polêmica, feminista da mais retrógrada cepa, com linguajar que denigre as mulheres comparando-as aos eunucos criando um limbo entre o homem e a mulher muito em voga nos anos 60", continuou. Segundo ele, o objetivo de sua crítica foi "vigiar quando tentam impingir a teoria de gênero goela abaixo, com subterfúgios, quando não conseguem nas casas legislativas".
Deputado Marcos Feliciano criticou questão sobre lutas feministas com Simone de Beauvoir no Enem
(Foto: Reprodução/Facebook)
(Foto: Reprodução/Facebook)
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, rebateu os deputados em entrevista coletiva
na noite deste domingo (25). Segundo o ministro, a escritora e filósofa
teve "grande contribuição" sobre a condição da mulher na sociedade. Ele
lembrou que, no passado, as mulheres não podiam votar e eram
consideradas incapazes, sem direitos. "Esse é o contexto do debate.
Pessoas podem divergir. Na educação, tem de estar aberto a discutir, a
aceitar", declarou.
Mercadante acrescentou que não teve acesso às questões antes da prova, por conta do sigilo imposto. "A prova é feita com total sigilo, eu só descobri o tema da redação no exato momento em que ele foi divulgado para vocês. São pesquisadores, professores universitários de competências reconhecidas nas suas áreas."
Mercadante acrescentou que não teve acesso às questões antes da prova, por conta do sigilo imposto. "A prova é feita com total sigilo, eu só descobri o tema da redação no exato momento em que ele foi divulgado para vocês. São pesquisadores, professores universitários de competências reconhecidas nas suas áreas."
Sobre o tema da redação, que abordou a violência contra as mulheres,
ele afirmou que é um assunto importante e que ainda está presente na
sociedade brasileira. Ele disse ainda que achou o tema "excelente" para
que os mais de sete milhões de participantes reflitam sobre isso. "Em
relação ao tema da redação, é inquestionável. Somos uma sociedade em que
ainda há muita violência contra a mulher", disse ele.
"Eu achei uma excelente escolha, defendo completamente a prova, estão
de parabéns os que o fizeram. Quem sabe debatendo essa questão a gente
consiga diminuir a violência, vai ser um grande avanço para a sociedade
brasileira", concluiu.
Elogios ao tema da redação
A questão citando Simone de Beauvoir foi uma das mais mencionadas nas redes sociais depois do primeiro dia de provas do Enem. Neste domingo, porém, as questões de gêneros voltaram aos cadernos de prova do exame.
A questão citando Simone de Beauvoir foi uma das mais mencionadas nas redes sociais depois do primeiro dia de provas do Enem. Neste domingo, porém, as questões de gêneros voltaram aos cadernos de prova do exame.
O tema da redação do Enem 2015 foi "A persistência da violência contra a
mulher na sociedade brasileira". O tema gerou polêmica nas redes
sociais, mas foi bem recebido por outros políticos.
Renato Janine Ribeiro, que foi ministro da Educação entre abril e
setembro, afirmou ao G1 que não sabia qual seria o tema da redação, mas
que o considerou muito bom. "Como ministro não tomei conhecimento do
tema. Foi uma surpresa, mas achei o tema muito bom. Considero que coloca
a questão da desigualdade entre os gêneros e a questão da opressão que
ocorre sobre as mulheres", disse ele.
A deputada Maria do Rosário (PT-RS) também elogiou o tema. "Boa
escolha! Tema de redação do Enem diz respeito e deve ser conhecido de
todas as pessoas: violência contra a mulher", disse ela, pelo Twitter.
A deputada Maria do Rosário elogiou o tema da redação do Enem 2015 (Foto: Reprodução/Twitter)
O secretário municipal de Educação de São Paulo, Gabriel Chalita,
também aprovou o assunto da prova de redação: "Excelente tema. É preciso
refletir sobre essas ações covardes, criminosas", publicou ele, em seu
perfil pessoal no Twitter.
O
secretário municipal de Educação de São Paulo, Gabriel Chalita,
considerou o tema da redação do Enem 2015 'excelente' (Foto:
Reprodução/Twitter)
Especialistas ouvidas pelo G1 afirmaram que o tema é
pertinente e atual, e disseram que, ao contrário de algumas edições
anteriores, neste ano só há um tipo de posicionamento em relação ao
tema: contrário à violência.
"No ano em que o Enem propôs movimento migratório, ele dividiu os
candidatos. Alguns foram mais a favor, outros acharam que ia ter falta
de emprego no Brasil. No ano passado, com o tema da publicidade
infantil, os candidatos também ficaram um pouco divididos. Por um lado, a
publicidade ajuda a aquecer a economia, estimula o consumo, gera
empregos. E tem o outro lado, o do estímulo ao consumo desenfreado, de
não contribuir para a formação de cidadãos conscientes", afirmou ao G1 a professora Maria Aparecida Custódio, do laboratório de redação do Curso e Colégio Objetivo.
"Agora, defender a violência de qualquer pessoa é se colocar na
contramão dos direitos humanos, e do próprio edital do Enem. Qualquer
proposta que venha a fazer tem que contemplar os direitos humanos.
Qualquer violência física, verbal ou psicológica é indefensável."
A especialista em educação Andrea Ramal, elogiou o tema. "Eu acho que é
um tema muito pertinente. Houve uma pequena pista ontem na prova de
ciência humanas com aquela citação de Simone de Beauvoir,
que já trazia a questão da mulher. É um tema atual, extremamente
relevante para os jovens discutirem, ainda mais considerando que os
índices de violência contra a mulher realmente pertinente no Brasil",
afirmou ela ao G1.
"A gente pode comparar o Enem a um fórum de debates sobre direitos e
deveres dos cidadãos. É como se o Enem convocasse 7 milhões de
estudantes para discutirem uma questão, e uma questão social pertinente
como a violência da mulher. Acredito que foi uma escolha muito feliz do
tema porque ainda não conseguimos vencer essa chaga tão horrorosa. A
aplicação da lei ainda não se efetivou", explicou Cida.
Abordagem do tema passa pela Lei Maria da Penha
Segundo Andrea Ramal, para que uma redação do Enem 2015 tenha uma nota alta, é obrigatório citar a Lei Maria da Penha no texto. "A não ser que a lei já seja um dos textos motivadores, precisa ser citada. Tem que falar da relevância dessa lei, se vem sendo cumprida ou não, e por que, e que outras ações para além da lei o Brasil pode tomar para resolver essa situação, porque só com a Lei Maria da Penha não resolveu."
Segundo Andrea Ramal, para que uma redação do Enem 2015 tenha uma nota alta, é obrigatório citar a Lei Maria da Penha no texto. "A não ser que a lei já seja um dos textos motivadores, precisa ser citada. Tem que falar da relevância dessa lei, se vem sendo cumprida ou não, e por que, e que outras ações para além da lei o Brasil pode tomar para resolver essa situação, porque só com a Lei Maria da Penha não resolveu."
Tema causa polêmica na web
A escolha do tema da redação do Enem 2015 gerou debates e polêmica no Twitter. Houve aqueles que defendessem a abordagem escolhida pelo Ministério da Educação (MEC) e outros que fizeram críticas.
A escolha do tema da redação do Enem 2015 gerou debates e polêmica no Twitter. Houve aqueles que defendessem a abordagem escolhida pelo Ministério da Educação (MEC) e outros que fizeram críticas.
A prova de redação tem caráter dissertativo-argumentativo e os
estudantes precisam escrever sobre o tema com base em textos de
motivação apresentados na hora da prova. Até a publicação desta
reportagem, o Inep ainda não tinha divulgado o teor destes textos.
Segundo o Inep, "na prova de redação são avaliados aspectos relacionados
às competências que devem ter sido desenvolvidas durante os anos de
escolaridade. Os participantes devem defender uma tese – uma opinião – a
respeito do tema proposto, apoiada em argumentos consistentes,
estruturados de forma coerente e coesa, de modo a formar uma unidade
textual".
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