Mariana Tokarnia / Agência Brasil
A pesquisa foi feita pelo Consad entre 2011 e 2012.
SÃO
LUÍS - A professora de matemática do Centro de Ensino Fundamental da
316 Norte, em Brasília, Avelina Pereira Neves não responde imediatamente
à pergunta: por que continua na profissão? Ela se emociona e diz que
"ser professor é ser movido por uma paixão, por um sonho de
transformação".
Com 49 anos e 30 de profissão, Avelina pediu
aposentadoria para o início do ano que vem. As lágrimas, segundo ela,
são menos por deixar a escola e mais por avaliar o que o exercício do
magistério lhe causou. A lista de enfermidades inclui problemas
gástricos, irritabilidade, problemas nas articulações. "A gente se
aposenta e não serve mais para nada. Quando você gosta, cria muitos
sonhos, não pensa na dificuldade, só pensa no produto do seu trabalho.
Quando acaba, está com a coluna ruim, braços, tanta coisa, problemas
psiquiátricos". Durante a carreira, a professora passou dez anos
afastada, exercendo outra função na escola, por questões de saúde.
Ao fim da entrevista com Avelina, ela se junta aos demais professores no pátio da escola. Lá, os estudantes prepararam uma homenagem para eles em comemoração ao Dia do Professor. "Hoje, os estudantes que se organizaram, que prepararam tudo". Ela lembra que insistiu, em outras ocasiões, que o espaço fosse usado em atividades para os alunos. "A gente fica nessa expectativa de que aprendam, de que tenham uma vida melhor".
Ao fim da entrevista com Avelina, ela se junta aos demais professores no pátio da escola. Lá, os estudantes prepararam uma homenagem para eles em comemoração ao Dia do Professor. "Hoje, os estudantes que se organizaram, que prepararam tudo". Ela lembra que insistiu, em outras ocasiões, que o espaço fosse usado em atividades para os alunos. "A gente fica nessa expectativa de que aprendam, de que tenham uma vida melhor".
O caso de Avelina não é isolado. Uma pesquisa feita em
três estados - Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina - e no
Distrito Federal (DF) mostra a Secretaria de Educação como o órgão com
maior percentual de servidores públicos afastados por doenças no DF e em
Santa Catarina. O Distrito Federal lidera o índice - 58% dos
profissionais foram afastados por motivo de doença pelo menos uma vez no
ano. Em Santa Catarina são 25%. No Rio Grande do Sul, a educação
aparece como a área com o terceiro maior índice de afastamento entre as
secretarias do estado, 30%.
A pesquisa foi feita pelo Conselho
Nacional de Secretários de Estado da Administração (Consad) entre 2011 e
2012 e divulgada no ano passado.
Outra pesquisa, citada em
revista da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) de
2012 - Trabalho Docente na Educação Básica no Brasil -, revela que as
principais causas de afastamento de docentes são processos inflamatórios
das vias respiratórias (17,4%), depressão, ansiedade, nervosismo,
síndrome do pânico (14,3%) e estresse (11,7%). Foram entrevistados 8,9
mil professores em Minas Gerais, no Espírito Santo, em Goiás, no Paraná,
em Santa Catarina, no Rio Grande do Norte e Pará.
"Temos uma
categoria que sofre muito de estresse pelo número de alunos em sala de
aula, pelos salários baixos, pelas difíceis condições de trabalho", diz o
presidente da CNTE, Roberto Leão, acrescentando que o estresse leva a
outras doenças. Segundo ele, é difícil conseguir dados nacionais
confiáveis e, geralmente, as doenças não são tratadas nas causas.
Leão
cita o excesso de estudantes em sala de aula, a violência nas escolas, a
falta de tempo para planejar aulas e corrigir provas, o que faz com que
os profissionais ocupem o tempo livre e os finais de semana com
trabalho, como algumas das condições que levam às doenças. "Precisamos
que os profissionais estejam bem porque eles vão lidar com adolescentes,
jovens, que são o futuro do país", afirma.
Saúde no DF
De
acordo com o Consad, no Distrito Federal, líder no índice de
afastamento por doenças, os problemas são causados principalmente por
transtornos mentais e comportamentais, como depressão, ataques de
ansiedade, fobias e distúrbios do sono, de acordo com a Subsecretaria de
Segurança e Saúde no Trabalho da Secretaria de Estado de Gestão
Administrativa e Desburocratização.
O Sindicato dos Professores no
Distrito Federal (Sinpro-DF) estima que esses atestados representam
hoje 70% dos afastamentos. "Uma doença psíquica não é curada em uma
semana, às vezes leva tempo, precisa de remédios. Pode levar até meses,
anos para o professor se recuperar", diz a coordenadora da Secretaria de
Saúde do Trabalhador do Sinpro-DF, Maria José Correia. "A secretaria
não está preparada e nem sempre envia professor para substituir. Em
casos de atestados de 15 dias, de até um mês, os alunos ficam sem
professor", acrescenta.
A subsecretária de Segurança e Saúde no
Trabalho, Luciane Kozicz, que coordenou o estudo do Consad, diz que a
saúde do professor é preocupação do governo, que instituiu em junho
deste ano a Política Integrada de Atenção à Saúde do Servidor. Uma das
ações que serão desenvolvidas é, junto com o servidor, mapear as causas
das doenças e tentar desenvolver programas antes que o profissional saia
de licença.
O que diz a lei
No Plano
Nacional de Educação (PNE), sancionado no ano passado pela presidenta
Dilma Rousseff, estão as metas de garantir a formação continuada e
pós-graduação aos professores, equiparar o salário ao dos demais
profissionais com a mesma escolaridade e garantir plano de carreira. O
primeiro prazo termina no ano que vem, limite para a definição do plano
de carreira.
"O professor é uma peça-chave na educação do país e,
se quisermos dar prioridade à educação, precisamos valorizar o professor
em termos de salário, de condições de trabalho, além do reconhecimento
social da importância da profissão", diz a coordenadora-geral do
movimento Todos pela Educação, Alejandra Velasco.
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