O número representa 8,7% da população acima de 15 anos.
Os analfabetos funcionais, que conhecem letras e números, somam 27%.
Treze milhões de brasileiros não sabem ler e escrever. O número
representa 8,7% da população acima de 15 anos. Isso significa que o
Brasil não vai cumprir um pacto internacional de reduzir pela metade o
analfabetismo de adultos até o fim do ano.
Segundo o IBGE, o município de Alagoinha do Piauí é o recordista em
número de analfabetos do Brasil. O dinheiro para alfabetizar adultos vem
do Governo Federal e o Ministério Público investiga a utilização desta
verba na cidade. “Muito provavelmente esse índice constatado pelo IBGE
não condiz com a realidade. Trata-se, muito provavelmente, de um número
que é utilizado também para a prática de fraudes, porque essa verba
relativa ao Brasil Alfabetizado é proporcional ao número de analfabetos
do município”, explica Maria Clara Lucena, procuradora federal.
Por ser o município com o maior número de analfabetos, no ano passado
Alagoinha tinha também o maior número de alfabetizadores. Eram 42
professores, que ganhavam R$ 400 por mês, além dos oito coordenadores,
que recebiam R$ 600 mensais.
Na investigação, o Ministério Público descobriu que os coordenadores e
alfabetizadores formavam as turmas, mas não ministravam aulas. Muitos
dos que se diziam analfabetos, na verdade, sabem ler e escrever. “Eles
davam seus nomes apenas para fazer número. Para que esses
alfabetizadores e coordenadores pudessem formar turmas e assim receber
suas bolsas”, explica a procuradora.
O programa é federal, mas cabe ao município acompanhar a aplicação do
dinheiro. Nas ruas, a população revela que era convidada a participar do
programa, apenas para que as turmas fossem preenchidas, mas o
secretário municipal de Educação, Márcio Ribeiro, afirma que não tem
conhecimento da prática.
Ao fim do curso, os educadores tinham que apresentar um relatório sobre
o desempenho de cada aluno. Os documentos apresentados são todos
exatamente iguais. Márcio Ribeiro diz não estranhar o fato dos
relatórios dos alunos serem iguais. “O município é um município muito
pequeno. Esses professores se encontram diariamente. Nessas conversações
eles podem ter chegado em um comum e tinham o modelo dos relatórios”,
diz Márcio Ribeiro.
A coordenadora do projeto no município não atendeu as ligações. Por
email, o Ministério da Educação disse que cortou a verba do programa até
a apuração das denúncias.
Em Alagoinha, 73% das crianças e jovens até 19 anos estão matriculados
nas escolas, mas 18% dos alunos desistem antes de terminar o Ensino
Médio. O trabalho no campo e o casamento tiram os adolescentes da escola
antes de concluírem os estudos.
Pessoas que conhecem letras e números, mas não conseguem ler ou fazer
contas são chamadas de analfabetas funcionais. Uma pesquisa mostra que
esta é a condição de 27% dos adultos brasileiros. “Geralmente se somam
fragilidades uma em cima da outra. Ele vem da família mais frágil, a mãe
não tinha escolaridade, não pode dar atenção, ele foi para a escola
mais fraca, foi ficando para trás e o professor não deu tanta atenção
para ele. Reprovar também não é a solução. Você está penalizando a
criança por uma falha que é do sistema como um todo. Vamos focar em
fazer ela, de fato, aprender. É possível”, afirma Ana Lúcia Lima,
diretora do Instituto Paulo Montenegro.
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