Karina Yamamoto
Do UOL, em São Paulo
Márcia Aparecida Jacomini, no artigo "Por que a maioria dos pais e alunos defende a reprovação?"
Do UOL, em São Paulo
O prefeito Fernando Haddad (PT) e o secretário de Educação César Callegari (PSOL) apresentam,
na manhã desta quinta-feira (15), um novo programa para a rede
municipal de ensino. Chamado "Mais Educação São Paulo", o pacote de
iniciativas faz clara referência ao programa de ensino integral do governo federal criado por Haddad enquanto ministro.
As escolas públicas municipais terão um novo regimento geral que mudará a rotina dos estudantes e professores: provas a cada dois meses (bimestrais), lição de casa, notas de 0 a 10 e boletim que poderá ser consultado pelos pais na internet.
"[O programa] procura resgatar ideias boas e velhas e [acrescentar]
ideias boas e novas", afirmou o prefeito Fernando Haddad. "[É uma]
combinação virtuosa, com resgate de uma escola que passou por um suposto
processo de modernização."
Segundo diagnóstico da Prefeitura, apenas 34% dos alunos apresentam
conhecimento adequado ou avançado em português e 27% em matemática. Na
8ª série, 23% está com nível adequado e avançado em português e 10%
apresenta esse resultado em matemática.
As mudanças passam a valer a partir de 2014 e o texto está sob consulta
pública (com recebimento de sugestões de mudança) até o dia 15 de
setembro.
Há 21 anos, o município havia implantado a chamada progressão
continuada, uma concepção em que não há reprovação todos os anos e
existem ciclos -- a ideia é que os alunos têm diferentes ritmos e tempos
para a aprendizagem.
Progressão continuada existe há 21 anos na rede municipal de São Paulo
"O ensino na rede municipal de ensino de São Paulo foi organizado em ciclos em 1992, na gestão da prefeita Luiza Erundina de Souza, filiada então ao PT (Partido dos Trabalhadores). Nesse período, o ensino fundamental de oito anos passou a ter três ciclos: ciclo 1, 1º , 2º e 3º anos; ciclo 2, 4º, 5º e 6º anos e ciclo 3, 7º e 8º anos. Em 1998, na gestão de Celso Pitta, o ensino foi reorganizado em dois ciclos: ciclo 1, correspondendo aos quatro primeiros anos do ensino fundamental, e ciclo 2, aos quatro últimos anos."Márcia Aparecida Jacomini, no artigo "Por que a maioria dos pais e alunos defende a reprovação?"
Ideias "velhas"
A retenção (reprovação) dos alunos poderá acontecer em cinco momentos --
atualmente, ela só é possível ao final do 5º ano (antiga 4ª série) e ao
final do 9º ano (antiga 8ª série). Com as mudanças propostas, um
estudante da rede municipal pode ser reprovado ao final dos 3º, 6º, 7º,
8º e 9º anos.
"Em dois ciclos, havia pouca possibilidade de retenção. [E isso] para
mim é ruim porque o aluno perde a referência, o aluno acaba não
conseguindo acompanhar seu desenvolvimento no tempo", afirmou Haddad.
Os alunos também passarão a ser avaliados com notas de 0 a 10 em vez de receberem conceitos como "suficiente" e "insuficiente" -- a média para ser aprovado deve ficar em 5, segundo Callegari.
"Boletim, prova e lição de casa são a melhor estratégia para envolver a
família", disse Haddad. "São elementos centrais que se perderam [com o
tempo]".
Ideias "novas"
Junto ao retorno de práticas consideradas tradicionais, o governo
municipal propõe algumas novidades. As medidas que vão interferir mais
diretamente na rotina dos estudantes são a mudança da composição e caráter dos ciclos e a permanência da figura do professor de sala no 6º ano (antiga 5ª série quando os estudantes passam a ter diversos professores em vez de um único responsável pela turma).
A divisão dos anos de escola ficará assim:
- Ciclo da alfabetização: vai do 1º ao 3º ano (do antigo pré à antiga 2ª série) e tem como objetivo a alfabetização dos estudantes
- Ciclo interdisciplinar: será composto dos 4º, 5º e 6º anos e, como o nome sugere, terá ênfase na abordagem interdisciplinar dos conteúdos (ou seja, um mesmo tema será estudado nas diversas matérias) em projetos. Há previsão de docentes para o desenvolvimento dos projetos
- Ciclo autoral: reunirá os anos entre o 7º e o 9º e a intenção é que o estudante esteja preparado para articular os conhecimentos adquiridos de maneira individualizada. Ao final do 9º ano, será elaborado um TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), um tipo de produção que é mais usual no ensino superior
Ao manter apenas um professor para as aulas de por português e
matemática no 6º ano (antiga 5ª série), a intenção é "fazer uma
transição mais suave" entre o os anos iniciais e finais do ensino
fundamental. As avaliações nacional mostram queda no desempenho dos alunos no fundamental 2
-- fase considerada de difícil adaptação para o aluno que deixa de ter
um professor de classe e poucas matérias para uma rotina com diversos
docentes e disciplinas novas como biologia e história.
A adesão mais ampla ao programa federal de educação integral (Mais
Educação) e a implantação de uma rede de formação de professores com
cursos semi-presenciais (por meio de um outro programa federal, a UAB -
Universidade Aberta do Brasil) são outras "ideias boas e novas" na
concepção do "Mais Educação São Paulo".
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