Blog Luis Cardoso
Documento elaborado em conjunto com o MPF foi assinado nesta quinta-feira e prevê metas até 2020
Documento elaborado em conjunto com o MPF foi assinado nesta quinta-feira e prevê metas até 2020
Depois de um longo processo de negociações, o Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra) comprometeu-se, nesta
quinta-feira, 8 de agosto, a reduzir o desmatamento em assentamentos na
Amazônia Legal (região formada por Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato
Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins). Pelo termo de compromisso
(íntegra) assinado com o Ministério Público Federal (MPF), a meta
estabelecida é de queda de 80%, até 2020, em relação aos índices
verificados em 2005.
Em contrapartida, serão extintas sete ações ajuizadas pelo MPF na
Justiça Federal que requerem a condenação da autarquia por danos
ambientais (detalhes no final da matéria). Algumas delas, inclusive, já
tiveram decisões favoráveis ao MPF, casos como os do Acre, doMato Grosso
e do Pará.
Importância do acordo – Em 2012, com base em dados até então
inéditos sobre o desmatamento em assentamentos de reforma agrária, o MPF
identificou o Incra como maior desmatador da Amazônia: as derrubadas
ilegais nessas áreas tinham subido de 18% de todo o desmatamento anual
em 2004 para 31,1% em 2010. Os dados foram fornecidos por três
instituições distintas, a partir de análise das fotos de satélite dos
assentamentos: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais e Instituto do Homem e Meio Ambiente da
Amazônia. Conforme a investigação pedida pelo Grupo de Trabalho da
Amazônia Legal, que reúne procuradores da República de toda a região,
até 2010, o Incra havia sido responsável por 133.644 quilômetros
quadrados de desmatamento dentro dos 2.163 projetos de assentamento que
existiam na Amazônia Legal. Para se ter uma ideia do prejuízo, a área
desmatada era de aproximadamente 100 vezes o tamanho da cidade de São
Paulo.
“Além de reduzir o desmatamento, é importante ressaltar que o acordo
também visa a fortalecer a reforma agrária no país. Um dos compromissos
do Incra é justamente o de oferecer assistência técnica qualificada ao
assentado para que ele produza melhor e tenha condição digna de vida,
sem necessidade de efetuar exploração predatória”, afirmou o procurador
da República Daniel Azeredo, coordenador do GT Amazônia Legal. Para o
presidente do Incra, Carlos Mário Guedes de Guedes, o termo de
compromisso é a afirmação de uma proposta que já vem sendo desenvolvido
de forma coletiva pela instituição: o programa Assentamentos Verdes.
“Sintetiza nosso desafio, que é o de diminuir o espaço de tempo entre
acesso a terra e a chegada de um conjunto de políticas públicas”, disse.
Tanto o ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, quanto o
procurador federal dos Direitos do Cidadão, Aurélio Veiga Rios,
destacaram a importância de que sejam conjugados desenvolvimento,
sustentabilidade e as condições sociais dignas aos assentados. Já o
coordenador da 4ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF,
subprocurador-geral da República Mario Gisi, ressaltou a necessidade de
que, a partir de agora, seja dada “sequência às tarefas, aos prazos e
aos desafios propostos para que realmente se atinja o objetivo de
redução do desmatamento na Amazônia”.
Detalhes do acordo e mecanismos de fiscalização – O acordo assinado
nesta quinta-feira concretiza um processo de negociação estabelecido
entre MPF e Incra para que sejam atacadas as principais causas do
desmatamento (falta de licenciamento ambiental e de Cadastro Ambiental
Rural dos assentamentos) e sejam colocadas em prática medidas de
recuperação das áreas degradadas – vale destacar que, nos últimos dois
anos, o Incra já vem tomando algumas medidas neste sentido.
Pelo documento, a autarquia federal compromete-se, por exemplo, a:
- apresentar, dentro de 120 dias, base de dados georreferenciada com a
exata localização de todos os assentamentos na Amazônia Legal,
discriminando-os em licenciados, em processo de licenciamento ou não
licenciados;
- promover o monitoramento do desmatamento nos assentamentos, apresentando relatório trimestral ao MPF;
- requerer o Cadastro Ambiental Rural dos assentamentos de forma
individual, por assentado, e o Licenciamento Ambiental dos
assentamentos;
- apresentar, dentro de 180 dias, um plano de regularização ambiental
de todos os assentamentos, descrevendo ações, possíveis parcerias,
metas anuais, indicadores de monitoramento e lista daqueles que
necessitam de medidas mais urgentes;
promover assistência técnica regular com adequação ambiental de todos os assentamentos e assentados sob sua gestão;
- oferecer incentivos financeiros aos técnicos contratados nos
assentamentos e aos gestores das áreas com melhores desempenhos
ambientais;
- criar novos assentamentos na Amazônia apenas dentro dos modelos de
Projetos de Desenvolvimento Sustentável, Projetos de Assentamento
Extrativista e Projetos de Assentamentos Florestais;
- restringir recursos dos beneficiários da reforma agrária quando forem identificados desmatamentos ilegais;
- firmar parceria com os Conselhos Municipais de Desenvolvimento
Rural Sustentável, que terão a atribuição de fiscalizar as cláusulas
firmadas no termo de compromisso assinado entre MPF e Incra;
- criar uma equipe de fiscalização especial para atuar na Amazônia
Legal, junto aos pontos críticos de desflorestamento em assentamentos; e
- realizar visitas nos locais de desmatamento identificados por
satélite, identificar os causadores do dano, notificá-los
administrativamente e aplicar as sanções devidas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário