Carolina Tanaka Meneghel, de 29 anos, vive com a família em Piracicaba.
Jovem se formou em educação física e sonha em começar a dar aulas.
Abrir a porta, comer, se arrumar, lavar louças, dirigir e até fazer
uma "selfie" podem parecer tarefas simples do dia a dia, mas já imaginou
fazer isso com os pés? Para a educadora física Carolina Tanaka
Meneghel, de 29 anos, que nasceu sem os dois braços, tudo isso é rotina.
E, apesar das dificuldades e da necessidade constante de adaptação, a
jovem foi aprovada em um concurso público da Prefeitura de Piracicaba
(SP), cidade onde vive com a família, para o cargo de professora. Ela se
formou em educação física em 2007 e sonha em começar a dar aulas.
Carolina lava pratos e ajuda nas tarefas na casa da
família, em Piracicaba (Foto: Fernanda Zanetti/G1)
família, em Piracicaba (Foto: Fernanda Zanetti/G1)
Antes de escolher educação física, a jovem chegou a cursar faculdade de
rádio e TV. “Fui incentivada pelos amigos, que diziam que eu iria me
dar bem por ser bastante comunicativa, mas durante o curso percebi que
não era aquilo que queria para mim.”
Desde criança, Carolina sempre foi estimulada pelos pais a praticar
exercícios físicos. A jovem vai à academia diariamente e foi daí que
decidiu cursar educação física. “Meus pais me disseram para correr atrás
dos meus sonhos. Foi o que eu fiz."
No dia a dia, a deficiência não é empecilho para a realização das
tarefas. Com destreza e uma habilidade incomum nos pés, Carolina
consegue lavar louças, passar rímel nos cílios, destrancar portas, se
alimentar, cuidar da higiene pessoal e ainda dirigir um carro adaptado.
Mais recentemente, ela também aderiu à moda das "selfies" (fotografias
tiradas pelos próprios fotografados) e, com um celular nos pés, capturou
imagens suas.
Antes de iniciar a faculdade, Carolina conversou com o coordenador do
curso, que a incentivou a seguir adiante. “Durante a faculdade foi muito
gostoso. Os professores acabavam se adaptando às minhas necessidades. E
até os colegas de sala. Tivemos disciplinas voltadas para a inclusão de
deficientes físicos, visuais e auditivos e os alunos foram desafiados a
jogar vôlei igual a mim, ou seja, com os pés.”
Carolina passa rímel nos cílios com
o pé (Foto: Fernanda Zanetti/G1)
o pé (Foto: Fernanda Zanetti/G1)
Depois de formada, Carolina nunca trabalhou na área. Chegou a fazer um
curso técnico de gestão empresarial de empresas para ingressar no
mercado, mas nunca conseguiu realizar o sonho de exercer a profissão de
professora de educação física.
No entanto, a jovem viu no concurso da Prefeitura de Piracicaba
a chance de realizar o sonho. “Quando vi as inscrições abertas para o
concurso, não tive dúvidas. Quando vi que havia passado pelo sistema de
cotas foi uma alegria. A proximidade da realização de um sonho me deixou
ainda mais feliz. Será um novo desafio na minha vida. Quero poder
ajudar as crianças com a minha história de vida e de superação. Criança
tem curiosidade e quero ensinar tudo que sei e tudo que aprendi. Tenho
certeza que a resposta será positiva.”
A Prefeitura de Piracicaba, por meio de assessoria de imprensa,
informou que o concurso 002/2014, para o qual Carolina se inscreveu, foi
homologado no último dia 2 de abril e, conforme o edital, tem prazo de
um ano para convocar os aprovados.
Sem o auxílio de ninguém, Carolina utiliza os pés para se alimentar (Foto: Fernanda Zanetti/G1)
Independência
Carolina sempre se virou sozinha e possui até Carteira Nacional de Habilitação (CNH). “Desde que consegui o carro adaptado não dependo mais de ninguém para me locomover. Vou para onde tenho vontade.” A jovem relatou que não permite que a deficiência seja encarada como obstáculo. “Faço tudo com muita naturalidade. Nem penso em como executar as tarefas, simplesmente vou e faço.”
Carolina sempre se virou sozinha e possui até Carteira Nacional de Habilitação (CNH). “Desde que consegui o carro adaptado não dependo mais de ninguém para me locomover. Vou para onde tenho vontade.” A jovem relatou que não permite que a deficiência seja encarada como obstáculo. “Faço tudo com muita naturalidade. Nem penso em como executar as tarefas, simplesmente vou e faço.”
Carolina e a mãe, Dina de Paula Tanaka
(Foto: Fernanda Zanetti/G1)
(Foto: Fernanda Zanetti/G1)
Infância
Os pais de Carolina não sabiam que ela não tinha os braços, já que o ultrassom durante a gravidez não detectou a deficiência. “O início foi muito complicado, mas quem deu a própria resposta foi a Carol, que desde pequena começou a usar os pés para tudo. O dia em que mais me surpreendeu foi quando ela, ainda muito pequena, logo após a refeição, juntou os pratos com os pés, os encaixou entre a cabeça e o pescoço e levou para a pia. Aquele dia foi inesquecível. Mostrou a força e a determinação da Carol", relatou a mãe, Dina de Paula Tanaka, de 55 anos.
Os pais de Carolina não sabiam que ela não tinha os braços, já que o ultrassom durante a gravidez não detectou a deficiência. “O início foi muito complicado, mas quem deu a própria resposta foi a Carol, que desde pequena começou a usar os pés para tudo. O dia em que mais me surpreendeu foi quando ela, ainda muito pequena, logo após a refeição, juntou os pratos com os pés, os encaixou entre a cabeça e o pescoço e levou para a pia. Aquele dia foi inesquecível. Mostrou a força e a determinação da Carol", relatou a mãe, Dina de Paula Tanaka, de 55 anos.
Durante a infância, a jovem disse que não enfrentou problemas nem foi
vítima de bullying. Carolina contou que, na época, as outras crianças
queriam tentar fazer o que ela fazia com os pés, mas nem sempre
conseguiam. Aos dois anos de idade, Carolina começou a praticar natação.
Para ensiná-la, o professor chegou a amarrar os próprios braços para
sentir como conseguiria se virar na água e, a partir da experiência, ele
buscou uma técnica especial para ensiná-la a nadar.
Carolina dirige carro adaptado para ela desde 2007 (Foto: Fernanda Zanetti/G1)
Para Carolina, a adolescência foi o período mais difícil por causa do
preconceito. "Eu saía na rua e as pessoas ficavam olhando com pena. Isso
era muito difícil, mas nunca fiquei presa dentro de casa. Meus pais
nunca me esconderam e sempre me incentivaram”, contou.
Carolina se casou com o vendedor Jonas Meneghel, de 30 anos, no dia 29
de novembro de 2011, após 13 anos de namoro. “Foi um dia muito especial
na minha vida. Conversamos muito sobre a minha deficiência, mas ele é
uma pessoa maravilhosa e sempre me apoiou. No dia do casamento, a
curiosidade das pessoas era como eu colocaria a aliança na mão dele. Pra
variar, usei os pés. Já a minha aliança eu guardo em uma corrente no
pescoço.”
Para o futuro, a jovem pretende ser mãe. Carolina relatou que este
deverá ser mais um desafio em sua vida. “Sei que será uma nova fase
diferente de tudo o que já vivi, porque criança precisa do contato com a
mãe. Mas tudo é superável e tenho certeza que vai dar tudo certo.”
Carolina e o marido Jonas no dia do casamento em Piracicaba (Foto: Ivan Delabio/acervo pessoal)
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