Em Belém, casal fez adoções em um curto de espaço de tempo.
Paternidade era um sonho dos dois, antes mesmo se conhecerem.
Este será o segundo Dia dos Pais com a família completa: dois pais e três filhos. (Foto: Thais Rezende/ G1)
A comemoração de Dia dos Pais será em dose dupla para os irmãos paraenses Tássio, 5, Lucas, 4, e Theo Fernando, 3 anos, em Belém.
Eles têm dois pais, os professores Márcio Raiol e Rafael Lima, ambos
servidores da Universidade Federal do Pará (UFPA). Juntos há cerca de
cinco anos, eles planejaram e adotaram os três meninos, que se tornaram a
razão de viver dos pais.
“Eles ‘supercurtem’ ter dois pais. O Lucas, que é o do meio, faz
questão de chegar no meio de qualquer conversa e dizer: 'eu tenho dois
pais!'”, conta Márcio. O casal homoafetivo, que tem ainda um cachorro e
três gatos em casa, não considera sua família diferente. “Quando você
tem contato, deixa de ser estranho”, diz o professor.
Fernando tem 3 anos, Tássio está com 5 e Lucas
tem 4 anos de idade. (Foto: Thais Rezende/ G1)
tem 4 anos de idade. (Foto: Thais Rezende/ G1)
O filho mais velho estuda na Escola de Aplicação da UFPA,
onde um dos pais trabalha, e os dois menores em uma escola católica na
capital. “Nas escolas essa questão de aceitar múltiplas famílias foi
harmonioso. Isso sempre existiu, mas pouco tempo atrás as coisas eram
escondidas, as pessoas tinham medo de se apresentar, dizia que era tio.
Na festa do Dia das Mães na escola, no maternal, quando foram conversar
sobre a festa, os próprios coleguinhas do Lucas disseram para a
professora que o Lucas não tinha mãe e então adequaram a estrutura”,
relata Raiol.
Márcio e Rafael explicam que cresceram em famílias nas quais receberam
bastante amor e apoio, e que reproduzir isso era praticamente
automático. “Ninguém pensou em passar pela vida sem ser pai. Antes de
conhecer o Rafael, eu já vinha sondando como era, frequentei um grupo de
apoio à adoção. Quando a gente se conheceu e decidiu casar, começamos a
fazer planos juntos, pois ele também desejava adotar. Depois foi só
entrar com o pedido de adoção”, lembra Márcio, que a todo momento da
entrevista recebia o carinho do caçula da família, Nando.
No primeiro Dia dos Pais desde a chegada do primogênito, o casal
decidiu reunir todos os patriarcas da família para fazer uma comemoração
em casa. “Ser pai é, entre as várias habilidades, abrir mão de uma
série de situações que vivenciava em prol de outra pessoa. É você passar
a construir o dia a dia em função de uma criança, nesse caso, três
crianças! É você reestruturar suas opções de lazer, seus horários de
trabalho, projetos de vida e passar a planejar tudo prioritariamente
para eles. Vale a pena a todo momento”, afirma Rafael.
Família viajou para Fortaleza nas férias escolares de 2015. (Foto: Márcio Raiol/Arquivo pessoal)
Adoção no ParáO casal chegou a receber convites para adotar o método da barriga de aluguel, mas preferiu dar a oportunidade a uma criança de ganhar um lar. Antes de serem adotados, os meninos viviam em um abrigo localizado na capital paraense, sob a tutela do estado. Para que os garotos ganhassem um novo lar, Márcio e Rafael tiveram de passar pelo processo legal, que pode ser feito pela Vara da Infância, onde as sentenças saem, em média, após 11 meses, ou pelo Tribunal de Justiça do Pará, que leva cerca de 21 meses para permitir a adoção.
De acordo com o Tribunal de Justiça do Estado, atualmente tramitam 512 processos de adoção na Vara da Infância e Juventude. O TJ não diferencia pedidos de casais hetero e homoafetivos, mas afirma que 316 processos já foram julgados, 163 estão em andamento, 2 estão em fase de recurso e 21 foram suspensos por motivos que impedem a tramitação, como falta de documentos.
Amor contagiante
Márcio e Rafael contam que o amor não acontece à primeira vista, mas chega com o tempo. “Uma coisa que a gente aprendeu é não idealizar, porque quando você idealiza demais qualquer coisa, a chance de se decepcionar é grande. Então é o que a gente queria dar uma chance para uma criança de ter um lar bom, legal e tudo vem junto: vem o carinho, o apego, o afeto. Tem horas que é muito mais gratificante do que a gente espera, mas tem horas de exaustão. Entretanto, a gente não consegue mais imaginar nossa vida sem essas três pessoas fantásticas”, afirma Márcio Raiol.
Tássio foi o primeiro a ser adotado. Ele pedia
outros irmãos aos pais. (Foto: Thais Rezende/ G1)
outros irmãos aos pais. (Foto: Thais Rezende/ G1)
O fato de serem três meninos é mera coincidência. “Uma coisa que a
gente percebeu logo que teve o primeiro é que não queríamos ter um
filho só. A gente queria mais emoção, o próprio Tássio pedia”, conta
ainda o professor, que se emociona ao falar do primeiro filho.
“A gente fez várias visitas antes da adoção, e na última decidimos fazer um passeio. Na volta, na hora de despedida ele me agarrou e falou: 'Me levem pra casa, não me deixem aqui!'”, conta.
“A gente fez várias visitas antes da adoção, e na última decidimos fazer um passeio. Na volta, na hora de despedida ele me agarrou e falou: 'Me levem pra casa, não me deixem aqui!'”, conta.
“Nos sentimos abençoados com os meninos, pois colocamos no perfil que
aceitávamos crianças com alguma deficiência. Quando a gente adotou os
dois, o Nando veio com diagnóstico de déficit auditivo e o Lucas tinha
um déficit de aprendizagem. Mas graças a Deus era um diagnóstico
equivocado, era questão da falta de estímulo, apenas faltava isso. Como
não estimulavam a criança, achavam que ele era surdo. E você vê que ele é
um grude só!”, orgulha-se o “papai Márcio”, como é chamado pelos
filhos.
O casal revela que as pessoas ficaram surpresas quando souberam da
adoção de três crianças em um curto espaço de tempo. “Dizem que nós
somos muito corajosos, beirando a loucura. Um filho hoje em dia já da
trabalho, três assim, em tão pouco tempo, então!. Mas foi uma
consequência, vamos ter trabalho de uma vez, eles vão crescer bem
próximos”.
Pais
querem dar a oportunidade para os filhos fazerem boas escolhas na vida.
Na foto, a família reunida na festa de Natal. (Foto: Arquivo pessoal)
Para o futuro, os pais almejam que os garotos amem a si próprios e sua
família e saibam ainda que, sempre que precisarem, terão apoio dos dois
pais. “Daqui a 10 anos eles vão estar na adolescência e a gente sabe que
esse período é um momento em que vão querer cada vez mais o espaço
deles. Queremos dar a chance de viverem a vida e fazerem boas escolhas. A
gente está tentando dar um espaço de muito amor e apoio para eles, para
quando se deparem com essas situações complicadas da vida”, deseja o
professor.
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