Eleições 2018
Brasil está em penúltimo no ranking de participação feminina na AL.
Agência Brasil
Índice de participação de mulheres é de 10,5% na Câmara e de 14,8% no Senado. (Foto: Divulgação)
Apesar
da mudança na legislação que obriga os partidos políticos a destinarem
pelo menos 30% do Fundo Especial de Financiamento de R$ 1,76 bilhão –
dinheiro do orçamento da União –, para campanhas de mulheres, o atual
cenário de participação feminina pode permanecer inalterado. A avaliação
é do analista político e diretor de Documentação do Departamento
Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de
Queiroz.
Na
avaliação de Queiroz, a nova exigência pode até ajudar na ampliação da
participação feminina na vida pública, mas não será suficiente para
eliminar o desequilíbrio entre homens e mulheres no Parlamento
brasileiro.
Levantamento preliminar do Diap
aponta que a tendência das próximas eleições é de uma baixa renovação em
relação às anteriores, o que pode impactar no número de mulheres
eleitas.
“Só com a possibilidade de um
sistema eleitoral com lista fechada e alternância de gênero é que
poderia resolver isso definitivamente”, defendeu. Ele lembrou que hoje o
Congresso é majoritariamente masculino, com 10% de mulheres.
Penúltimo no ranking
A
exigência de que os partidos destinem pelo menos 30% ao financiamento
de campanhas de mulheres foi determinada, por unanimidade, pelo Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) em resposta a uma consulta apresentada pelas
senadoras Gleisi Hoffmann (PT-PR), Vanessa Graziotin (PCdoB-AM) e outras
parlamentares. Pelo entendimento da corte eleitoral, o tempo de
propaganda no rádio e TV também deverá ter a mesma divisão.
Segundo
o TSE, a aplicação de cerca de R$ 533 milhões do Fundo Especial em
candidaturas femininas é condição obrigatória para a liberação dos
recursos. No entanto, o critério para a distribuição do fundo será
definido pela Comissão Executiva Nacional do partido, que poderá
destinar essa cota de gênero para qualquer tipo de eleição, majoritária
ou proporcional.
O Congresso brasileiro tem atualmente 54 mulheres entre 513 deputados federais e 12 entre 81 senadores. Segundo o ranking
Mulheres na Política 2017 da União Interparlamentar (IPU, na sigla em
inglês) e da ONU Mulheres, o país ocupa a 32ª posição em um ranking de
33 países latino-americanos e caribenhos sobre participação das
mulheres nos parlamentos nacionais. Com 9,9% de parlamentares eleitas, o
país só fica à frente de Belize, cujo índice é de 3,1%. O primeiro
colocado é a Bolívia, com 53,1% de participação de mulheres no
Parlamento.
Na América Latina e Caribe, o
índice médio de participação de mulheres no Parlamento é de 28,8%. O
Brasil também ocupa as últimas posições no ranking mundial de
172 países, ficando em 154º lugar, considerando o índice de participação
de mulheres de 10,5% na Câmara e de 14,8% no Senado.
Maioria do eleitorado
Dados
atualizados da Justiça Eleitoral mostram que as mulheres são maioria do
eleitorado brasileiro, com 52,5% dos eleitores. No entanto, nas últimas
eleições majoritárias, em 2014, elas representaram 31,4% das
candidaturas, das quais apenas 15% foram eleitas.
Já
nas eleições municipais, em 2016, apenas 31,89% dos candidatos eram
mulheres. A primeira vez que as candidaturas femininas alcançaram 30% do
total de candidaturas de um pleito no país foi nas eleições de 2012.
Entretanto, desde 2009, a Lei das Eleições prevê que cada partido ou
coligação preencherá o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas
de cada sexo.
Com a obrigatoriedade de pelo
menos 30% de candidatas mulheres, também apareceram as chamadas
“candidatas laranja”. Segundo o TSE, em 2016 mais de 16 mil candidatos
terminaram a eleição sem ter recebido sequer um voto. Naquele ano, em
1.286 dos 5.568 municípios, não houve nenhuma mulher eleita para o cargo
de vereador. Além disso, apenas em 24 municípios as mulheres
representam a maioria dos eleitos para o Legislativo municipal.
Na
avaliação da assessora do Centro Feminista de Estudos e Assessoria
(Cfemea), Jolúzia Batista, os partidos políticos estão mais cautelosos
no cumprimento da lei, já que nas últimas eleições foram multados pelo
TSE. “Então, acreditamos que pode ter um avanço significativo do ponto
de vista de ter mais candidaturas de mulheres. Esse recurso [de
candidatas laranjas] não vai deixar de existir, mas vai ficar um pouco
mais camuflado”, afirmou.
Pautas
Para
a assessora do Cfemea Jolúzia Batista, as mulheres já têm atuado de
forma mais expressiva, sobretudo nos partidos de esquerda. “Nos partidos
em que já havia uma batalha interna, intensa, por exigência de lugar e
visibilidade, a pode ser que isso venha a reverberar de forma um pouco
mais consistente. Mas ainda é um desafio, é uma incógnita que só vamos
descobrir na apuração”, disse.
Para o
Cfemea, as pautas ligadas à mulher no Parlamento brasileiro tendem a ser
dominadas pela atuação masculina. "Os debates sobre direitos
reprodutivos, aborto, atendimento às mulheres vítimas de violência no
SUS [Sistema Único de Saúde] são completamente mediados pela presença do
pensamento moral conservador e dos homens”, afirma. “Eles dominam o
debate sobre leis que atingem diretamente a vida das mulheres e de uma
experiência que, inclusive, não está neles, mas se legitima por força
dessa cultura machista patriarcal”, completa.
Segundo Jolúzia, o sistema político funciona para não permitir que candidaturas femininas sejam visíveis, além de oprimir e apagar trajetórias que propõem pautas diferentes das já estabelecidas. “As candidaturas femininas em si já trazem uma agenda que é rechaçada, que não é valorizada pelo sistema político”, afirmou.
Segundo Jolúzia, o sistema político funciona para não permitir que candidaturas femininas sejam visíveis, além de oprimir e apagar trajetórias que propõem pautas diferentes das já estabelecidas. “As candidaturas femininas em si já trazem uma agenda que é rechaçada, que não é valorizada pelo sistema político”, afirmou.
Eleições 2018
Entretanto,
as novas regras, a sensível predominância das mulheres no eleitorado e o
cenário indefinido das eleições majoritárias deste ano têm pressionado
os partidos políticos a valorizar a participação feminina na corrida
presidencial.
Com a realização das
convenções partidárias, das 13 chapas oficializadas, sete são integradas
por mulheres. As siglas têm até o dia 15 de agosto para registrar os
pedidos de candidatura no TSE. Essas solicitações devem ser homologadas
pela corte até o dia 17 de setembro.
A
senadora Ana Amélia (PP-RS) é a vice na chapa de Geraldo Alckmin pelo
PSDB. A também senadora Kátia Abreu (PDT-TO) disputará como vice na
chapa do partido junto a Ciro Gomes. Pelo PSOL, a líder indígena Sônia
Guajajara disputará como vice ao lado de Guilherme Boulos. A professora
Suelene Balduino Nascimento é a vice de Cabo Daciolo, pelo Patriota. Já
Marina Silva (Rede) e a Vera Lúcia (PSTU) encabeçam as chapas de seus
partidos como candidatas a presidente.
Oficialmente,
o PT destinou o ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo,
Fernando Haddad, para ocupar o posto de vice na chapa do partido
encabeçada por Luiz Inácio Lula da Silva, atualmente preso em Curitiba.
No entanto, diante do risco de o ex-presidente ser declarado inelegível
pela Lei da Ficha Limpa, a cúpula do partido trabalha com a
possibilidade de Manuela d'Ávila (PCdoB) vir a ser vice de Haddad, que
assumiria, neste caso, a cabeça da chapa.
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