Alerta!
Especialistas apontam maneiras de se proteger.
Jonas Valente/Agência Brasil
Na política, as denúncias de interferências em processos políticos e
eleições por grandes plataformas colocou em evidência o poder da coleta
desses registros para direcionar anúncios e mensagens. ( Foto:
Divulgação)
BRASÍLIA - Nos últimos
anos, dados pessoais entraram no centro de disputas econômicas e
políticas. Essas informações passaram a ser chamadas de “o novo
petróleo” e organizações internacionais classificam como o principal
insumo de uma “4ª revolução industrial”. Na política, as denúncias de
interferências em processos políticos e eleições por grandes plataformas
colocou em evidência o poder da coleta desses registros para direcionar
anúncios e mensagens.
Neste
cenário, emerge uma disputa silenciosa entre as diversas iniciativas de
coleta de dados e as tentativas de se proteger dessa prática, seja por
meio de legislações seja por condutas cotidianas. Navegadores usados em
desktops e smartphones são um dos canais por meio dos quais cidadãos têm
sido monitorados.
O alerta foi dado por
Veridiana Alimonti, representante da entidade internacional Eletronic
Frontier Foundation (EFF), na nona edição do “Seminário sobre Proteção à
Privacidade e aos Dados Pessoais”, evento promovido pelo Comitê Gestor
da Internet nesta semana em São Paulo e que reuniu especialistas
internacionais no tema.
No encontro, a
especialista em políticas digitais, que também já integrou o comitê,
chamou a atenção para as formas de vigilância das pessoas por meio de
sistemas como Chrome, Firefox, Safari e Internet Explorer. Por meio de
diversos mecanismos, empresas coletam e reúnem informações sobre pessoas
sem que elas saibam.
Esses registros
permitem que, ao acessar determinado site ou serviço (como uma página de
comércio eletrônico), o site identifique de quem se trata, abrindo
espaço para formas de segmentação e até mesmo discriminação. Um exemplo
desse tipo de prática é a diferenciação de preços pelo CEP do comprador.
Um
dos mecanismos utilizados nesse monitoramento são os conhecidos
cookies, instalados em dispositivos ao acessar um site. Os cookies são
pequenos “pedaços de código” (ou mini-programas) criados para registrar
dados da navegação das pessoas e repassar a empresas com fins de
rastreamento.
Esse tipo de recurso é
utilizado em geral por agências de marketing digital, cuja adoção ocorre
para que os anúncios “sigam” os usuários pelos sites pelos quais
navegam. Nesses casos, o usuário pode apagar os cookies instalados. Cada
navegador oferece essa funcionalidade em determinado local das suas
configurações.
Outra técnica de vigilância é
conhecida como “supercookie”. Nela, provedores incluem códigos nos
cabeçalhos de navegação para cada cliente, mas que não são vistos pelo
usuário. Assim, quando uma pessoa faz um acesso, o site pode ler o
identificador e saber que se trata de determinado computador ou
domicílio.
“Impressão digital” dos navegadores
Contudo,
há um sistema de rastreamento mais perigos que os cookies, mostrou
Veridiana Alimonti no seminário do CGI, conhecido pelo nome em inglês
“fingerprinting”, termo que designa uma espécie de “impressão digital”
formada no navegador de cada pessoa. Quando alguém acessa um site,
empresas conseguem atribuir uma identificação a um navegador em um
computador por meio da combinação de várias informações, como elementos
da configuração do navegador e do computador, fuso horário, entre
outros.
“Sites podem fazer isso sem serem
detectados. Essa informação não está no seu computador, mas nas
empresas. Isso pode ser usado, inclusive, para recriar os cookies. Essa
técnica não oferece nenhuma funcionalidade útil aos usuários e na
prática cria um potencial identificador global por meio do qual se pode
acompanhar a navegação dos usuários e criar perfis de forma mais
obscura”, analisou a especialista.
Navegadores mais seguros
Internautas
têm hoje à disposição diversos navegadores. Entre os mais famosos estão
Google Chrome, Internet Explorer, Safari (da Apple) e Mozilla Firefox.
Mas há outros menos conhecidos como Tor, Brave e Opera. Segundo ranking
realizado pelo site ExpressVPN, especializado em publicidade, o
navegador mais seguro é o Tor Browser, seguido pelo Firefox e pelo
Brave.
“Ele é um Firefox com vários
consertos relacionados à segurança e privacidade. Além de encaminhar
todo o tráfego através da rede Tor, ele bloqueia funcionalidades nos
sites que podem ser usadas para te identificar. Os sites que tentarem
monitorar você não vão conseguir diferenciar seu acesso do das milhões
de pessoas que usam Tor diariamente. Alguns sites não carregam bem nele,
mas é a melhor alternativa”, recomenda o diretor de tecnologia da
organização Coding Rights e membro do conselho editorial do Boletim
Antivigilância, Lucas Teixeira.
O Mozilla
lançou recentemente o Firefox Focus para dispositivos móveis, com alguns
mecanismos de proteção contra rastreamento. Ele permite bloquear
rastreadores de anúncios, de análise, de redes sociais ou de conteúdos.
Além disso, deixa o botão de remoção do histórico de navegação na tela
inicial, facilitando a operação.
O Firefox
para desktops possui alguns plugins (extensões) para evitar coletas
indevidas. Um exemplo é o chamado “Facebook Container”, que “isola” a
aba da rede social e impede que ela possa registrar o que o usuário faz
em outras abas. É por meio dessa vigilância, por exemplo, que o Facebook
usa o dado de uma visita que você fez em um outro site (como uma busca
sobre uma cidade) para oferecer anúncios (como a venda de passagens para
aquela cidade).
Um dos mecanismos
anunciados pelos navegadores como forma de garantir um ambiente mais
seguro são as abas “privativas” (ou denominação semelhante). Esses
recursos, entretanto, segundo Lucas Teixeira, são pouco efetivos,
valendo apenas para evitar que o site acessado fique registrado no
histórico de navegação e não guarde cookies depois de fechada a janela,
mas não protege contra formas mais sofisticadas de monitoramento.
Ferramentas de proteção
A
Eletronic Frontier Foundation criou um projeto para alertar usuários
sobre técnicas de rastreamento por meio de navegadores, chamado
Panoptclick. Acessando o site, é possível fazer um teste para verificar
se o seu Chrome, Microsoft Edge ou Firefox estão protegidos desse tipo
de mecanismos.
Além do projeto, a Eletronic
Frontier Foundation também disponibiliza um plugin (extensão) que
protege navegadores de mecanismos de rastreamento que são instalados por
sites. O recurso é chamado “Privacy Badger” (Texugo da Privacidade, na
tradução do termo em inglês).
Na avaliação
de Lucas Teixeira, esta é uma boa ferramenta. Ela não elimina totalmente
a tentativa de inserir “impressões digitais” nos navegadores
(fingerprinting), mas evita a instalação de vários rastreadores.
O
especialista alerta que, mesmo com um comportamento seguro em relação
aos navegadores, é preciso estar atento também com outros programas,
especialmente aplicativos em smartphones. Os usuários devem desabilitar
autorizações para usos diversos, como câmeras e microfones, como forma
de evitar coleta maciça de dados por esses sistemas e dispositivos.
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