Guia de turismo foi detido ao atravessar a fronteira, em Foz do Iguaçu, no PR.
Justiça condenou estado a pagar indenização de R$ 40 mil por danos morais.
França gastou R$ 15 mil só com advogados
(Foto: Reprodução RPC TV)
(Foto: Reprodução RPC TV)
O guia de turismo José de França Rocha, de 54 anos, que passou 15 dias presos por engano em 2010, em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, disse que nunca se esqueceu dos dias em que passou detido. Em entrevista ao G1, ele contou como foi o drama de ficar 15 dias atrás das grades.
"Lembro todos os dias do que aconteceu. Ninguém esquece, meus clientes
que estavam aqui naquela época quando voltam me perguntam se está tudo
resolvido, falo que está quase tudo certo, que não devo e nunca devi
nada para ninguém", lembra.
A Justiça condenou o Governo do Rio Grande do Norte a pagar uma
indenização de R$ 40 mil por danos morais para o guia. O Judiciário
potiguar emitiu a ordem de prisão em nome do irmão dele, que tinha o
mesmo nome. A prisão aconteceu no posto de fiscalização da Polícia
Federal na Ponte Internacional Tancredo Neves, entre o Brasil e a
Argentina. O irmão dele era acusado de roubar um carro. "Minha família
está muito contente. Já tinha sido uma vitória provar a minha inocência,
e agora é um reconhecimento, e que sirva de lição", diz.
França ainda mora com a família em Foz do Iguaçu e continua o trabalho
como guia de turismo. Todos os dias ele passa pelo local onde foi preso.
O guia conta que também entrou com uma ação na Justiça para trocar de
nome. “Pedi para mudar para França Rocha Eggert, sobrenome da minha
esposa, para não dar mais confusão. Já passei por isso e não quero
passar de novo”, conta. A ideia de trocar de nome surgiu depois que ele
foi renovar a carteira de habilitação e descobriu que havia muitas
pessoas com o nome igual ao dele. "Fiquei com medo, depois de tudo o que
aconteceu e pelo o que eu passei. Então, eu e a minha esposa decidimos
pedir a troca de nome", afirma.
Segundo França, foi preciso gastar R$ 15 mil só para pagar os
advogados, sem somar o dinheiro perdido pelos dias em que ficou sem
trabalhar. “Eu acho injusto demais isso, não tem previsão de quando vão
pagar [a indenização] e ainda podem recorrer. Tenho um carro com 11
lugares que renderia, na época, R$ 800 por dia, imagina isso somando
todos os dias que fiquei sem trabalhar. A indenização não paga isso e
nem a humilhação de um dia que passei dentro daquele lugar”, comenta o
guia de turismo.
Os advogados haviam pedido R$ 1 milhão pelos danos morais e materiais.
"Tive que pagar um advogado aqui e outro no Rio Grande do Norte para
provar a minha inocência. O dinheiro que eles querem me pagar não paga
nada do que passei, dinheiro no mundo pagaria o que eu passei”, se
emociona França. Segundo ele, os advogados informaram que a indenização
ainda pode demorar de quatro a cinco anos para ser paga.
A prisão
O guia conta que trabalhava normalmente quando os policiais falaram que havia uma restrição com o nome dele. "O agente federal falou que tinha uma restrição no domingo quando passei na fronteira. Voltei para casa e nem dormi, fui na segunda-feira de livre e espontânea vontade na Polícia Federal ver o que estava acontecendo e quando cheguei o agente falou que tinha um mandado de prisão para mim".
O guia conta que trabalhava normalmente quando os policiais falaram que havia uma restrição com o nome dele. "O agente federal falou que tinha uma restrição no domingo quando passei na fronteira. Voltei para casa e nem dormi, fui na segunda-feira de livre e espontânea vontade na Polícia Federal ver o que estava acontecendo e quando cheguei o agente falou que tinha um mandado de prisão para mim".
"Na época o policial federal disse que sabia que não era para mim
porque me conhecia, mas a promotora falou para ele por telefone que ele
estava ali para cumprir ordens e era para me prender”. França foi levado
para a cadeia pública Laudemir Neves.
Sobre os dias em que ficou preso, França disse que foi o pior momento
da vida dele. "Foi o pior dia do mundo. Ficar em um lugar onde cabem
seis e tem 13 pessoas. Só um rapaz que estava lá tinha cometido 23
homicídios. Ninguém dormia, só fumavam maconha. Eu sou um homem sério,
trabalhador, nunca tinha passado ou chegado perto disso", lembra.
França e o irmão têm 12 anos de diferença de idade e há anos perderam o
contato. “Meu irmão nunca me ligou, faz 12 ou 13 anos que não falo com
ele, falo com a minha mãe, com a minha família no Rio Grande do Norte,
mas nunca mais falei com ele. Não sei como ele está e nem o que está
fazendo. Mas eu o perdouo sim, não tenho raiva dele, mas ele nunca me
procurou para pedir desculpas”. lamenta.
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