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quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Ativista vê neto desaparecido pela 1ª vez após 36 anos na Argentina

Encontro aconteceu na tarde desta quarta-feira (6) na cidade de La Plata.
Drama de uma das 'avós da Praça de Maio' comoveu o país na terça-feira.

Do G1, em São Paulo
Estela atende a imprensa em casa na manhã desta quarta-feira (6), horas antes de reencontrar o neto desaparecido há 36 anos na Argentina (Foto: Carlos Cermele/Telam/AFP)Estela fala à imprensa em casa na manhã desta quarta-feira (6), horas antes de reencontrar o neto 
desaparecido há 36 anos na Argentina (Foto: Carlos Cermele/Telam/AFP)

A presidente da organização humanitária argentina 'Avós da Praça de Maio', Estela de Carlotto, finalmente colocou fim a uma espera de 36 anos nesta quarta-feira (6) ao abraçar o neto. Nesta terça (5), ela comoveu o país ao confirmar a recuperação de Guido, um músico criado sob o nome de Ignacio Hurban, que tinha dúvidas sobre sua origem e se submeteu voluntariamente a exames de DNA que provaram o parentesco.

Um comunicado divulgado no site do movimento confirmou o reencontro de Carlotto e do neto. "Felizmente, Guido Montoya Carlotto já pôde abraçar sua família materna, que o buscou sem pausa e de forma incansável durante 36 anos. O encontro íntimo aconteceu nesta tarde na cidade de La Plata". O município fica cerca de 60 km ao sul de Buenos Aires.

Carlotto, de 83 anos, é mãe de Laura, e Hortensia Ardua, de 91 anos, mãe de Walmis Oscar. Laura e Walmis são os pais de Guido, assassinado quando ele era um recém-nascido em 1978 durante a ditadura militar argentina (1976-83).

Antes do reencontro, na manhã de quarta, Carlotto declarou que lutará para recuperar os netos que faltam. "Não, não termina aqui, seguirei na luta. Vou seguir na 'Avós' para buscar todos os que faltam", prometeu a ativista referindo-se às quase 400 pessoas - netos - que não foram encontrados.

Confirmação
Carlotto comoveu o país na terça-feira ao confirmar a recuperação de seu neto Guido, um músico criado sob o nome de Ignacio Hurban, em uma coletiva de imprensa onde se viu uma mulher feliz. "Agradeço a todos, a Deus, à vida, porque eu não queria morrer sem abraçá-lo", declarou Carlotto na sede da organização que preside desde o fim da década de 80 e que já encontrou outros 113 netos desaparecidos durante a ditadura.
Não, não termina aqui, seguirei na luta. Vou seguir na 'Avós' para buscar todos os que faltam"
Estela de Carlotto
Na coletiva, cercada por seus três filhos, 14 netos e dois bisnetos, além de companheiras de luta e vários netos localizados pela entidade humanitária, disse ainda que "Laura sorri do céu", ao lembrar sua filha, uma militante 'montonera' - a guerrilha de esquerda dos anos 70 - que estava grávida de três meses quando foi sequestrada e levada a um centro de tortura da ditadura.
Após dar à luz em condições desumanas a Guido, o neto identificado na terça-feira, no dia 26 de junho de 1978, Laura foi assassinada e seu corpo foi entregue mais tarde a sua mãe, que o exigia.

'Sou o neto de Estela'
O músico Guido Carlotto, que participou de atos da organização humanitária de sua avó, se apresentou há apenas um mês voluntariamente para fazer um teste genético e tirar dúvidas sobre sua identidade.
Quando ainda não suspeitava de sua verdadeira identidade, o jazzista que mora em Olavarría, 350 km ao sudoeste de Buenos Aires, escreveu uma canção intitulada 'Para la Memoria', dedicada ao tema dos desaparecidos na Argentina.
"Sou o neto de Estela de Carlotto", teria confessado na terça-feira ao pianista de seu grupo, um de seus amigos mais íntimos.

Foto do perfil de Ignacio Hurban no Twitter (Foto: Reprodução/Twitter Ignacio Hurban) 
Foto do perfil de Ignacio Hurban no Twitter
(Foto: Reprodução/Twitter Ignacio Hurban)
 
"Ele estava calmo. O que preocupava 'Pacho' - como é chamado - é como a notícia afetaria seus pais, os que o criaram, porque saberiam da novidade pela televisão", indicou.
Governo argentino comemora
Integrantes do governo argentino comemoraram a recuperação do jovem. O chefe de Gabinete, Jorge Capitanich, destacou o trabalho da organização presidida por Estela de Carlotto.
"Temos um respeito e consideração especial por sua extensa luta, nos foi gerado um sentimento muito profundo de reconhecimento não apenas a sua luta, mas a esta conquista que é extraordinária para todos os netos recuperados", declarou Capitanich em uma coletiva de imprensa na Casa de Governo.
"Este encontro é muito profundo e tem relação com a reivindicação de uma luta histórica que envolve todos os argentinos em relação à memória, à verdade e à justiça, mas, sobretudo, a um sentimento extraordinário que ficará gravado na memória de todos os argentinos", acrescentou Capitanich.
Na terça-feira, a notícia foi comemorada pela presidente argentina, Cristina Kirchner, que telefonou para Carlotto e chorou com ela, contou a líder das Avós.
"A Argentina é um país um pouco mais justo que ontem", escreveu no Twitter mais tarde a presidente.

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