Brian tem 21 anos e adotou o nome de Abu Qassem Brazili.
No fim de 2012, ele foi para a Síria se juntar aos extremistas.
Imagine ver seu filho se alistar no grupo extremista mais brutal do
mundo. Um exército terrorista que grava vídeos com decapitações de
prisioneiros e ameaça destruir todos que discordam dele.
O correspondente Roberto Kovalick conversou com a brasileira que tem um filho nas tropas do Estado Islâmico.
A vida da brasileira Rosana Rodrigues deu uma volta gigantesca. Ela
busca respostas. O que levou o filho dela, um rapaz católico,
esportista, alegre, a se tornar um radical do Estado Islâmico, um grupo
em que matar ou morrer são coisas banais?
“Que meu filho não chegue ao ponto de decepar a cabeça de alguém ou de
matar alguém. E no fundo do meu coração, eu sinto que meu filho jamais
faria isso. Porque eu como mãe, eu jamais... Eu amo muito ele, mas eu
jamais seria capaz de perdoar meu filho se ele fizesse uma coisa
dessas”, conta a mãe de Brian.
A Bélgica é um país de 11 milhões de habitantes, com uma das melhores
qualidades de vida do planeta e um dos celeiros de extremistas do Estado
Islâmico na Europa.
O grupo se autoproclamou um califado, uma comunidade muçulmana radical em uma região entre a Síria e o Iraque.
O Estado Islâmico se tornou ainda mais conhecido depois dos vídeos em
que dois jornalistas americanos e um voluntário britânico aparecem sendo
decapitados por um extremista. Estima-se que mais de 2 mil ocidentais
se juntaram ao grupo e 300 saíram da Bélgica.
Um deles é o filho da brasileira Rosana Rodrigues, que vive na Bélgica há 24 anos.
“Um dia ele foi. Um dia eu fui no quarto dele e ele já não estava mais
lá. Ele só se despediu da minha filha mais nova. Deu um beijo no rosto
dela e falou que essa era a última vez que ela ia ver ele”, ela conta.
O filho de Rosana, Brian, tem 21 anos. Tem cidadania belga, mas fala
português. Foi várias vezes ao Brasil e, ao se juntar ao Estado
Islâmico, adotou o nome de Abu Qassem Brazili, ou o Abu Qassem
brasileiro.
Para entender o que provocou esta transformação, o Fantástico foi até a
Antuérpia, a segunda maior cidade da Bélgica, famosa pelo comércio de
diamantes e onde a família morava. Brian é filho de pai belga e estudava
em uma das melhores escolas católicas da cidade. Praticava a religião.
“Ele era muito católico e, na maioria das fotos que ele tem no Brasil e
aqui na Bélgica ou na Espanha, na Turquia, aonde ele esteve, ele sempre
usava um crucifixo”, relata a mãe.
A transformação de Brian começou com uma grande decepção, o fim de um
sonho. Ele queria ser jogador de futebol. Mas aos 17 anos, foi
dispensado e entrou em depressão.
Foi nesse momento que os extremistas se aproximaram dele. Não é um caso
isolado. Esta semana, uma revista belga publicou a entrevista com outro
rapaz que está lutando na Síria. E ele declara: “Antes nossos ídolos
eram Ronaldo e Messi. Hoje é Bin Laden.
“Para ele, foi uma desilusão muito grande”, lembra Rosana.
E ele encontrou apoio em um grupo de jovens muçulmanos do bairro.
“Esses rapazes aconselharam ele a procurar a força no Alá, que eles
falam Alá, para nós é Deus. E em um profeta Mohamed, que disse que era
para pedir ajuda para o Deus deles e o profeta deles, que o Deus ia
ajudar ele a superar essas tristezas e tudo. Só que, infelizmente, foi a
desgraça da vida do meu filho. E para minha vida também, para minha
família, uma verdadeira desgraça”, diz Rosana.
Na mesquita que Brian frequentava, segundo a imprensa da Bélgica, ele
encontrou extremistas de vários países: Afeganistão, Paquistão,
Bangladesh. Em poucos meses, menos de dois anos, se tornou um deles.
Nós tentamos conversar com os líderes da mesquita. Eles não quiseram
dar entrevista, mas asseguraram que não têm nenhuma ligação com os
radicais islâmicos. Brian foi apresentado a um dos líderes dos
extremistas na Bélgica, Fuad Belkacem, que agora está preso.
Rosana conta que o filho foi levado para outra mesquita que fica no meio da floresta das Ardenas, a maior da Bélgica.
“Eles se escondem nessa mesquita para ficar aprendendo a pular, atirar,
aprender a passar fome, como você conseguiria ficar dias sem comer.
Eles fazem um total treinamento nos meninos”, ela explica.
No fim de 2012, Brian foi para a Síria se juntar aos extremistas.
“Eu pedi ajuda à polícia, pedi assistência às pessoas, e ninguém quis
me ajudar. E por conta própria, eu encontrei uma foto do meu filho e
reconheci o meu filho. Ele estava com uma arma, com uma roupa de
soldado. E desde aí já vai fazer dois anos que ele está na Síria. Nos
últimos meses, eu não tenho mais notícias dele. Não sei se meu filho
está vivo ou se ele está morto”, conta a mãe.
O prefeito da Antuérpia, Bart de Wever, conta que há recrutadores nas ruas do país em busca de jovens como Brian.
Um dos grandes medos na Europa é que esses jovens extremistas voltem
para praticar atos terroristas nos países onde nasceram. E é exatamente
isso que os belgas temem que Brian faça.
Em um vídeo atribuído a ele, o Estado Islâmico ameaça explodir um
monumento chamado Atomium, um dos pontos turísticos mais visitados de
Bruxelas, a capital da Bélgica. Um ataque no local destruiria um dos
símbolos do país e provocaria centenas de vítimas.
O vídeo começa com imagens dos extremistas. Brian não aparece, mas a voz que entoa um cântico é atribuída a ele.
Rosana: Não tem nada a ver com a voz do meu filho. Não
é meu filho. Eu tenho tanto medo que a qualquer minuto ter uma notícia
que mataram o Brian, que o Brian está morto, que eu nunca mais vou poder
ver meu filho.
Fantástico: Você acha que o Brian cometeria um ato terrorista?
Rosana: Eu não sei. Eu tenho medo de eles colocarem ele para se explodirem. Eu seria capaz de fazer tudo. Eu seria, inclusive, capaz de dar a minha cabeça para ver o meu filho de volta.
Fantástico: Você acha que o Brian cometeria um ato terrorista?
Rosana: Eu não sei. Eu tenho medo de eles colocarem ele para se explodirem. Eu seria capaz de fazer tudo. Eu seria, inclusive, capaz de dar a minha cabeça para ver o meu filho de volta.
“Brian é considerado perigoso e muito radical. Há testemunhas que
implicam ele em atentados. A mãe dele quer acreditar que ele seja
ingênuo, mas nós devemos considerá-lo um radical perigoso”, avalia o
prefeito da Antuérpia.
Usar ocidentais como garotos-propaganda é uma tática do Estado Islâmico para impor medo no Ocidente e atrair mais seguidores.
O extremista que aparece decapitando os dois reféns americanos e o
britânico tem sotaque de Londres. Rosana acha que o mesmo está sendo
feito com o filho. “É como o Brian, o Brian é lindo, ele é bonito, não é
por ser meu filho”, diz ela.
A comunidade muçulmana condenou as ações terroristas do Estado
Islâmico. Em São Paulo, o xeque Rodrigo Rodrigues, da Liga da Juventude
Islâmica do Brasil, disse que, pelo que está sendo mostrado, o grupo vai
contra o que o Islã ensina.
“A tradição do profeta Mohamed não prega isto. O Islamismo é uma
religião de justiça, de paz, de harmonia. Historicamente, muçulmanos e
não-muçulmanos viveram séculos de mãos dadas. Se não andaram de mãos
dadas, andaram se respeitando uns aos outros. Mas isso de matar todo o
mundo que está contra mim não é islâmico”, ele explica.
A última notícia que Rosana teve do filho foi de que ele estava na
cidade de Aleppo, no noroeste da Síria, um dos fronts de batalha entre
os extremistas do Estado Islâmico e as forças do regime sírio. Ela está
disposta a uma ação desesperada para reencontrar Brian.“Eu vou para a Síria. Eu vou ver meu filho. Buscar eu não sei, mas que eu vou, eu vou”, avisa Rosana.
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