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quarta-feira, 30 de abril de 2014

Caseiro de Paulo Malhães entrega irmãos em depoimento no RJ

Polícia já identificou 3 dos 4 homens que invadiram casa do coronel.
Militar morreu enquanto criminosos estavam em seu sítio, na Baixada.

Guilherme Brito Do G1 Rio
O caseiro Rogério Pires, que segundo a polícia confessou ter participado do crime que terminou com a morte do coronel reformado Paulo Malhães, denunciou seus dois irmãos como sendo os homens que invadiram, na última sexta-feira (25), o sítio do militar em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Malhães, que no mês passado contou à Comissão da Verdade que havia participado de sessões de tortura durante a ditadura, morreu enquanto o grupo estava em sua casa. No início da tarde de terça-feira (29), os irmãos do caseiro – identificados como Rodrigo Pires e Anderson Pires Teles – ainda eram procurados. Os três tiveram a prisão temporária decretada.
Caseiro do coronel Paulo Malhães, Rogério Pires, é conduzido pela polícia após sua prisão (Foto: Guilherme Brito/G1)Caseiro do coronel Paulo Malhães, Rogério Pires,
é conduzido pela polícia após sua prisão
(Foto: Guilherme Brito/G1)
Segundo o delegado William Pena Júnior, da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), os investigadores tentam descobrir quem é o quarto homem que participou do crime.
De acordo com o delegado assistente da DHBF, William Pena Júnior, Rogério Teles participou do crime dando informações, mas não teria planejado a ação.
"O caseiro foi a fonte de informações para que a ação toda pudesse acontecer, mas os irmãos dele foram os mentores", disse.
Prisão
Rogério foi preso nesta terça-feira. De acordo com a polícia, ele facilitou a ação dos bandidos que fizeram o militar e a mulher dele, Cristina Batista Malhães, reféns durante 13 horas.
Na segunda-feira (28), tanto Rogério quanto Cristina foram ouvidos pela polícia. Com base nos relatos, foi feito o retrato falado dos suspeitos.
O caseiro e a esposa do coronel reformado Paulo Malhães prestam depoimento na Delegacia de Homicídios, em Belford Roxo (RJ), nesta sexta-feira (25). O coronel Paulo Malhães havia admitido na Comissão da Verdade que participava de torturas durante a Ditadu (Foto: ALEX VIPER/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO)Caseiro entregou irmão durante depoimento
(Foto: Alex Viper/Futura Press/Estadão Conteúdo)
Além do caseiro e da viúva, três filhos do coronel prestaram depoimento. Para elucidar o crime, a polícia busca imagens de câmeras de segurança da região para serem analisadas, segundo o delegado Marcus Maia, que cuida do caso.

Investigação
Para os policiais da DHBF, a principal linha de investigação continua sendo a de crime patrimonial, ou seja, motivado pela intenção de roubar pertences da casa do coronel. Apesar dessa tendência, a polícia não descarta a participação de outras pessoas, como mandantes ou ajudantes. O delegado titular da divisão, Pedro Medina, quer ouvir os outros suspeitos e localizar uma quarta pessoa que teria participado do assalto ao sítio do militar aposentado.
"O próximo passo é prender os outros irmãos do Rogério e ouvir os depoimentos. Temos ao longo dos 30 dias de investigação que fazer mais diligências para nos certificar de que foi de fato um latrocínio (roubo seguido de morte), mas essa é a versão que mais se encaixa no momento", apontou Medina.

Os agentes da Polícia Civil contaram que a discrepância em relação ao posicionamento das vítimas no crime foi um dos indícios mais fortes para decretar a prisão temporária do caseiro.
"Em todos os depoimentos, ele se contradisse em relação ao posicionamento das vítimas durante o assalto. Essa foi uma das características mais fortes, já que as informações dadas por ele não batiam", disse o delegado titular.

Cachorro ajuda investigação
O comportamento de um cachorro que vigiava a casa de Malhães também foi um elemento que a polícia levou em consideração para prender o caseiro. "O cachorro é feroz, pudemos constatar isso, e foi estranho ele não ter reagido quando a casa foi invadida por criminosos", explicou Medina.
Após o laudo que vai identificar as circunstâncias que levaram à morte do coronel, a polícia vai poder reforçar a tese de latrocínio ou acreditar na possibilidade de uma morte natural. Segundo policiais da DHBF, no caso de a morte não ter sido causada por asfixia ou outra ação direta dos criminosos, o crime poderá ser classificado apenas como roubo.

Perfil do coronel
A polícia disse que, com os depoimentos, está traçando um perfil do coronel. "Estamos trabalhando para criar uma rotina da vida dele, de desafetos, vizinhos." Maia disse que, com o que a polícia colheu até agora, é possível dizer que Malhães era uma pessoa reclusa, até pelo local em que vivia. "É uma miscelânea. Há pessoas que falam que ele tinha um problema de relacionamento social, mas tem também quem disse que ele ajudava vizinhos a pagar dívidas e era um cara solícito", afirmou.

O delegado destacou que a linha de investigação da polícia ainda é latrocínio, vingança e queima de arquivo. "As coisas caminham para o latrocínio, mas essa não é a principal linha."

Segundo Maia, o laudo cadavérico vai ajudar a tirar dúvidas sobre a causa morte do coronel. "A gente quer ser preciso e técnico", disse.

Invasão ao sítio
De acordo com depoimento prestado pela viúva do coronel, pelo menos três homens – um deles com o rosto coberto – invadiram o sítio de Malhães na tarde de quinta-feira. A mulher disse que a invasão ocorreu por volta das 13h e que, até as 22h, ela e o caseiro foram mantidos reféns em cômodos separados. Os criminosos fugiram levando armas que o oficial colecionava e dois computadores.

O coronel foi encontrado morto depois que os invasores deixaram a propriedade.
Segundo o delegado Pena Júnior, a polícia desconhece informações que apontem para possíveis ameaças sofridas pelo coronel antes de ser encontrado morto.
Há cerca de um mês, Malhães havia admitido na Comissão Nacional da Verdade, em Brasília, que participou de torturas e desaparecimentos durante a ditadura militar, inclusive no caso do ex-deputado Rubens Paiva – que foi preso em 20 de janeiro de 1971 e é um dos 183 desaparecidos políticos com o paradeiro a ser investigado pela comissão.
A Comissão Nacional da Verdade foi criada pelo governo federal para examinar e esclarecer violações de direitos humanos praticadas durante o regime militar, que vigorou no país entre 1964 e 1985.
Em depoimento à comissão, Malhães disse que o corpo do ex-deputado foi jogado em um rio de Itaipava, na Região Serrana do Rio, por agentes da ditadura. Cerca de uma semana depois, em outro depoimento, ele negou o fato.

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